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quinta-feira, 28 de maio de 2015

A “BOLA” E O “BAAL”
Quando uma das detidas do Estabelecimento Prisional de Odemira sai em liberdade, as demais gritam "bola! bola! bola! bola!!", num frenesim ensurdecedor.  No entanto, parece que já ninguém sabe por que motivo o fazem. É interessante perceber que a explicação para este fenómeno curioso se prende com o uso da nossa antiga língua de origem fenícia, que num ambiente fechado como é uma prisão sobreviveu até hoje.
De facto este "bola" que as prisioneiras gritam incessantemente quando uma delas é liberta deve provir do termo fenício "baal", que se referia por certo ao "senhor" (juiz, ou qualquer outro tipo de figura que decidia sobre a liberdade dos prisioneiros). Havia libertação de alguém quando o "senhor" (o baal) ia à prisão, portanto os detidos gritavam "baal! baal! baal! baal!", pedindo ao senhor que olhasse pela sua situação e tentando assim não ficar esquecido a apodrecer na prisão.

Claro que o procedimento senhorial do velho "baal" foi sendo substituído progressivamente por instituições mais modernas, e hoje já não adianta gritar por ele para conseguir a libertação. No entanto o hábito ficou e, muito embora já ninguém saiba porquê, todas gritam "bola! bola! bola! bola!" quando uma de entre elas sai em liberdade.
Outras palavras de origem fenícia relacionadas com prisões sobreviveram até nós. É o caso, entre outras, de "calabouço" (prisão infecta), "chui" (polícia), "chibo" (delator), etc.  

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

"MIRA" E A TERRA FÉRTIL

É provável que o radical “mira”, tão comum na nossa toponímia, tenha pelo menos duas origens diferentes. Por um lado há topónimos em que este “mira” está relacionado com o verbo latino “mirare”, e portanto uma relação com o “mirar” do português atual. São exemplos de topónimos com esta origem os “Miradouro”, os “Mirante”, etc. Há contudo outros topónimos que por certo têm uma raiz diferente. É o caso de “Miranda”, “Ramiro”, “Almiranta”, “Odemira” e mesmo de “Mira” quando ocorre isoladamente. Neste caso o radical “mira” deve provir do termo fenício “mr’” (em acádio “mari”), e significar simplesmente “terra fértil”.
Enquanto os topónimos do primeiro grupo são muito abundantes nas nossas ilhas atlânticas, os do segundo grupo são aí inexistentes. Este facto sugere que o radical fenício “mr’” já não devia ser usado com o significado de “terra fértil” quando as ilhas foram colonizadas, e que por seu lado já era usado nessa época o verbo “mirar” de origem latina.
O significado dos topónimos de origem fenícia pode ter explicações interessantes. Por exemplo, “Miranda”, deve provir de “mr’” (que significa “terra fértil”) e de “Ømd”, que significa “lugar”. Assim as nossas “Mirandas” devem ter significado apenas e simplesmente “lugar de terra fértil”. Pode contudo este “anda” de “Miranda” provir de “Ømdh”, com o significado de “refúgio, posto”. Nesse caso o nome resultaria da existência de algum tipo de proteção defensiva (um castelo, uma torre de vigia uma cerca simples de troncos?), e o nome teria o significado de “refúgio da terra fértil”.

Localização dos topónimos “Miranda” segundo mapa produzido em http://www.igeoe.pt/igeoesig/

Já os topónimos do grupo “Ramiro” (Ramiro, Ramirão, Ramira, Ramires), devem ter relação com pastagens em terra fértil, e o nome deve ter nascido de “rØh mr’”, termos fenícios que significa respetivamente “pastar” e “terra fértil”.

É claro que o topónimo “Odemira” corresponde à junção do radical de origem árabe “ode” ao nosso mais antigo “mira”. Ora este “ode”, comum a “Odelouca”, “Odesseixe”, “Odivelas”, “Odemira”, etc., provém do “uad” árabe, que significa “rio” e deve ter sido acrescentado ao radical “mira” que já existia. Terá tido então o significado de “rio da terra fértil”. O mais curioso é que nome do rio acabou por perder a partícula que inicialmente significava “rio”. De resto faz algum sentido, porque chamar ao rio “rio de Odemira” corresponde na prática a dizer “rio de rio mira”.