segunda-feira, 17 de março de 2014

Os “Zebro” e os “Sobro” e as mamoas Neolíticas


Uma boa parte dos topónimos antigos corresponde a elementos naturais do território, importantes para a localização e orientação dos habitantes da região onde nasceram. Há também nomes de sítios que surgiram de instituições humanas. Estes últimos são de comprovação geralmente difícil, porque muitas vezes não deixaram no território marca física que permita hoje demonstrar a sua origem.
Entre os topónimos de muito grande antiguidade que correspondem a obras do Homem ainda hoje reconhecíveis, vale a pena referir os que têm origem no radical fenício "sbr", que significa "amontoar, fazer um monte". Chegaram a nós após evolução de milhares de anos sobretudo nas formas "sobro" e "zebro", e estão claramente associados a mamoas e antas ou dólmens. É claro que os nomes "sobro" ou "zebro" foram criados no momento em que as construções foram realizadas, ou seja durante o neolítico e calcolítico, e por isso correspondiam ao processo construtivo - "amontoar, fazer montes". Já a palavra que hoje usamos, "mamoa", existe pela semelhança à "mama", ou seja, foi criada tendo em conta  apenas a sua forma  e não o seu conteúdo interior ou o processo construtivo. É por isso um termo muito mais recente.
Não será necessário dizer que existe um número anormalmente grande de mamoas e antas em Portugal que estão em locais conhecidos como "Zebro", "Zebra", "Sobro", etc.
Este novo conhecimento poderá ajudar os arqueólogos a encontrar monumentos megalíticos até agora desconhecidos, mas também a detetar as situações em que antigos monumentos foram completamente arrasados, e deles nada sobrou a não ser o nome.

quinta-feira, 6 de março de 2014

O "GODEL", O "GODELO" E O "GORDO"

Uma grande parte dos topónimos, com o passar do tempo e com a evolução da língua falada pelo povo, deixaram de ser usados como referências concretas aos eventos que justificaram o seu nascimento. Desse modo seguiram um de dois caminhos: alguns evoluíram foneticamente para palavras existentes na língua em uso; outros mantiveram a fonética próxima da original e passaram apenas a significar o evento que nomeiam.
Existem abundantíssimos exemplos de cada uma das situações. Como exemplo da primeira possibilidade podemos tomar o caso de “GRØMDHAZ”, que inicialmente significou “hospedaria segura” e que evoluiu quer para “Grão de Aço” quer para “Grandaços”; também o termo “ŠWH” fenício, que significa “ser plano, estar nivelado, etc.” (e que veio a evoluir para a nossa palavra “chão”), deu origem a topónimos como “Chã” e “Chão”, mas também a “João”.
Em outros casos os nomes dos sítios valem por si só, e nem o povo tenta uma explicação para a sua origem. Chama-se assim, porque assim sempre se chamou, e isso basta. Esse é o caso do grupo de topónimos “Godel” e “Godelo” que primeiro vou tratar. Depois falaremos de nomes que evoluem para parecerem palavras atuais.
J. P. Machado, no seu “Dicionário Onomástico e Etimológico da Língua Portuguesa” sugere uma origem germânica pata “Godel”, mas não explica porquê, nem tão pouco qual seria nesse caso o significado da palavra. Evidentemente que a origem germânica de topónimos portugueses como estes é pura ficção nascida de uma ideologia europeísta e anti meridional, mas sem o menor fundamento. Os nossos topónimos de raiz “GDL” provêm de formas fenícias como “gadôl” ou “godel”, que significam “ser grande em tamanho, em altura, em importância, em extensão, em riqueza, em poder,  etc.”. Os topónimos desta raiz, como “Godel” e “Godelo” foram frequentemente atribuídos a formas de relevo que correspondem a serras isoladas na paisagem, conforme se pode observar nos mapas que se seguem.

Uma possibilidade, por certo mais difícil de compreender, mas também mais interessante, é a de a sequência “GDL” ter evoluído para “GDR” por troca entre as líquidas “L” por “R”, e em seguida ter sofrido uma metátese “GDR” para “GRD”. Dessa evolução terá em muitos casos nascido o topónimo “Gordo”. Há largas dezenas de “Cabeça Gorda” e de “Cabeço Gordo”, que devem ter nascido por essa via. De resto, a própria palavra “gordo” pode ter esta origem, e ao contrário daquilo que geralmente se afirma não ter nascido do “gurdus” latino, que “estúpido, labrego, grosseiro”.