quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Para quem gosta de ver e ouvir...

A origem da língua portuguesa em pequenos vídeos explicativos sobre temas concretos, onde também se aborda a toponímia e a sua origem.
Podem ser vistos em:

A Origem da Língua Portuguesa:
https://www.youtube.com/watch?v=yhw8VEMTWGc

A Língua, o Poder e o Povo:
https://www.youtube.com/watch?v=2qkEZTgZ2Qo

O Artigo definido em português e em hebraico antigo:
https://www.youtube.com/watch?v=2qkEZTgZ2Qo

Toponímia portuguesa de origem fenícia:
https://www.youtube.com/watch?v=uLTRk8pM8Jk

Toponímia de origem fenícia - "Mal Lavado"
https://www.youtube.com/watch?v=ZxGSBlhQI-8

"Chada" - Origem e significado do nome:
https://www.youtube.com/watch?v=tCHuOGIkRvw

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A língua antiga e a arqueologia

Conhecer a língua falada pelos nossos antepassados pode converter-se numa ferramenta sem igual para a pesquisa arqueológica. O estudo da toponímia dos nossos campos, quando realizada com base neste novo conhecimento, ajudará em muito aos levantamentos de campo e pode mesmo ajudar a esclarecer as funções de certos achados.
Dou alguns exemplos para que melhor se perceba: os topónimos que incluem o radical "cabra" usualmente referem-se a sepulturas. "Qabru" em acádio é "sepulcro"; "qbr" em ugarítico tem o mesmo significado, e "Qèbèr" em hebraico antigo é o mesmo. Assim, "Cabeça da Cabra" significa "cemitério", já que deve provir de "qbs qbr" que significa "sepulturas juntas" ou "concentração de sepulturas". Também o comum topónimo "Cabra Figa" se refere a sepulturas, mas neste caso de "incineração". "Cabra assada" é a evolução de "qbr asad" que não é senão "encosta das sepulturas".
Já nem comento tontices como a de admitir que "Cabra Assada" teria sido nome nascido de um petisco entre amigos em que a vítima era uma cabra. É claro que este tipo de interpretações é despropositado e infantil, e devia ser de uma vez afastado de qualquer área de conhecimento que se reclame de ciência.
Conforme "cabra" na maior parte dos casos nada tem que ver com domésticos do Homem, também topónimos como "Cardo", "Cardosa" ou "Cardoso" devem ter geralmente pouca relação com a planta espinhosa a que chamamos "cardo". "Qaradu" (ou "qrd") significa "guerreiro", "herói" e "âz" é "ser forte" (daí também o nosso "ás"). Logo "Monte da Cardosa" é provavelmente um local onde existiu uma fortificação com guerreiros.
Os milhares de topónimos diferentes que existem em Portugal, depois de devidamente estudados e compreendidos trarão novos conhecimentos. Veja-se ainda como exemplo simples, que os topónimos que contêm o radical "alc" correspondem a realidades relacionadas com caminhos. Há seguramente topónimos "Alcaide" que significam apenas "junto ao caminho".
Penso por isso que quem queira evoluir na arqueologia de campo terá que mais cedo ou mais tarde compreender (e aprender) a origem da língua portuguesa.
E sendo assim, mais vale cedo que tarde.

domingo, 27 de outubro de 2013

Origem do Nome "Brasil"



 


  Mapa em que se localiza a Oeste da Irlanda uma imaginária “ilha Brasil”

Abraham Ortelius em 1572


É sabido que uma mentira, repetida mil vezes, passa a ser verdade, ou pelo menos todos a passam a aceitar como se fosse. Foi assim que aconteceu com a explicação que se deu para a origem do nosso “Brasil”: tanto se bateu na tecla do “pau brasil”, na “cor de brasa”, no vermelho, que se passou a aceitar a ideia sem fazer mais perguntas. No entanto…
 José  Pedro Machado[1], atestando com fontes seguras, mostra que a palavra “brasil” já era usada em 1377 (logo muito antes da descoberta do Brasil) referindo-se a “terras distantes”: “E de brasill que trouuerem ou leuarem também vezjnhos come os que nom som vezjnhos pagam dizjmas…””.  A palavra usava-se no sentido de “colónia distante” e não tinha qualquer relação com a cor avermelhada da madeira (o tal “pau brasil”), nem com qualquer outra coisa vermelha.
A cartografia medieval inclui com regularidade uma “Ilha Brazil” (designada também por vários nomes foneticmente próximos, como “Ie Brezil”) em locais vários e isolados do “mar oceano”, e em todos os casos refere-se a localizações isoladas e remotas a Oeste da Europa.
De onde vem então este “brasil” que veio a dar o nome ao nosso país irmão? Quem acompanhe este blog ou simplesmente tenha lido “A Origem da Língua Portuguesa”, não estranhará que a origem do nome se possa encontrar no fenício.
De facto, em fenício o termo “br’” [brâ] significa “arrotear, desbravar”. As sequências consonânticas “br” ou “pr” são,  na toponímia portuguesa, das mais comuns, e referem-se geralmente a  terras abertas, limpas de vegetação natural, terras de semeadura. Existem muitas centenas ou milhares de topónimos que incluem este radical.
Já a palavra “aṣil” [asil], que significa “partes mais remotas da Terra” é, como se compreende, muito raro, surgindo em palavras como “Azilheira” (parte mais remota da serra), “Benagazil”, (casa da parte mais isolada do ribeiro), “Aguazil” (parte mais isolada do ribeiro), etc. As formas “Brasil”, “Brasileiro”, etc. podem referir-se a nomes dados a locais habitados por emigrantes regressados do Brasil, e devem ser relativamente recentes.
Na nossa Ilha Terceira, nos Açores, existe tambémum “Monte Brasil”, que é evidentemente uma penísnsula isolada na entrada de Angra do Heroísmo.
      

                

 
Monte Brasil, visto do mar e em representação cartográfica, Ilha Terceira, Açores.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Monte_Brasil,_visto_do_mar,_Ilha_Terceira,_A%C3%A7ores.jpg

Assim, “brasil” é o nome dado aos campos arroteados nas “partes mais remotas da Terra”, que era evidentemente no início do século XVI a terra que acabava de ser descoberta no continente americano. A nobreza e o clero, as gentes poderosas do século XVI, bem tentaram chamar-lhe “Monte Pascoal”, “Ilha de Vera Cruz”, “Terra de Santa Cruz”, “Nova Lusitânia”, “Cabrália”, etc., mas no fim venceu o povo que na sua linguagem corrente ainda com forte influência fenícia  a conhecia simplesmente por se tratar de uma colónia distante: Brasil


[1]   - Machado, J. P., “Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa”, Primeiro Volume, pág. 460.