segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

DECORAR E MARRAR

Dizem os dicionários que o verbo “decorar” provém de “de+cor+ar”, sendo este “cor” proveniente do termo latino “cor” que significa “coração”. É certamente mais um caso de uma etimologia errada e tola, pois está bem de ver que a ideia de “coração” tem pouca relação com o “saber de memória”. Por isso, penso que será muito mais provável que a origem da nossa palavra “decorar” esteja em “qr’ ”, já que “qr’” [qorô] significa em fenício “recitar”, e recitar é precisamente dizer de memória. É evidente que essa ideia de “recitar” pode facilmente estar na origem do nosso “dizer de cor”, e consequentemente do verbo “decorar”. O mesmo "qr" (qoro) está presente em "encornar", que é igualmente "decorar"...
Ao contrário daquilo que se afirma geralmente, a palavra “marrar” não terá certamente relação alguma com “marra”, que significa “sacho” em latim. Pode antes ter uma relação com “mrh” [marrâ] que significa em fenício “ser teimoso, obstinado” e que se ajusta bem a um certo sentido em que utilizamos o termo “marrar” no sentido de “estudar muito” (por exemplo, estudar obstinadamente. De resto, quando se diz por exemplo “ele marrou para ali”, no sentido de “teimar”, este “marrar” é “ser teimoso, ser obstinado”, e provém certamente do “mrh”. O mesmo acontece quando se utiliza a palavra “marrar” no sentido de “estudar”, que é um ato de teimosia.

Por isso, quer estejas a “marrar”, quês saibas a lição “de cor”, estás a fazê-lo em fenício e não latim.

Caparica é "capa rica" ou "ponta mole"?

O topónimo “Caparica”, ao contrário daquilo que por vezes se afirma, nada tem que ver com a ideia de “capa rica”. O nome resulta da existência de um cabo (“Øqb” – “parte final”) de areia, lodo ou outro material macio (“rk” – “ser mole, der macio”). Assim “aqaberik” deve ter evoluído para “qaberik” e por fim para “qaperik”, com o significado de “ponta macia”, como referência ao facto de a margem sul da foz do Tejo ser constituída por uma ponta de areias ou lodos, e não por rochas.


Extrato da folha nº 441-B da Carta Militar de Portugal


Este mesmo radical “Øqb” ajudou à formação de um outro topónimo que ocorre na margem esquerda da foz dos rios:  “cabedelo”, que deve provir precisamente de “Øqb” [acaba] e de “dll” [del]. O radical “Øqb” [acaba] é nosso conhecido porque entre outras deu origem ao nosso verbo “acabar”, e em fenício significa precisamente “chegar ao fim, acabar”, mas também na forma “cabo” quando nos referimos ao fim de alguma coisa “dar cabo de”. Evidentemente que a própria forma latina “caput”, que significa “cabo”, nasceu desta mesma raiz. A raiz “dll” [del] (ou “dl”), significa geralmente “ser fraco, ser pequeno, ser insignificante”. Portanto neste caso trata-se de da mesma ideia dita de um modo ligeiramente diferente: "cabo fraco" em vez de "cabo mole".

Já agora convém referir que a raiz “Øqb” (acaba) foi utilizada para designar locais onde a terra acabava em outros locais do velho mundo. Veja-se por exemplo a “Aqaba” no extremo do golfo com o mesmo nome, no limite norte do Mar Vermelho.


domingo, 27 de dezembro de 2015


O "basqueiro" e a confusão da sua origem

Esta palavra é pronunciada indiferentemente “basqueiro” ou “vasqueiro”, o que remete para a essência da própria língua fenícia em que a distinção entre os dois sons era inexistente. O seu significado é “barulheira, confusão, caos, balbúrdia, desordem”, mas é mais usada no sentido de “barulho desagradável e caótico, espalhafato”.
É claro que a ideia muito difundida de que esta palavra teria alguma relação com “ânsias”, entendidas como o “estertor da morte” não faz o menor sentido, sendo por isso necessário encontrar uma explicação mais lógica. De facto esta é mais uma palavra nascida da língua falada pelo povo que foi conquistado e “colonializado” pelos romanos, não tendo por isso qualquer relação com o latim.
A origem do nosso “basqueiro” deve estar em “b’š qr’”[1], que significa “clamar odioso”, “gritar odioso”, “voz odiosa” ou “estrondo odioso. Os “vascos” e “vascas” inventados para explicar o nascimento da palavra não passam de delírios latinistas sem sentido.




[1] - Radicais próximos de “qr’” são “qra”, que significa “clamar, gritar”, e “ql” é “voz, estrondo”.