Os topónimos do mundo rural
resultaram tanto da realidade física do território como das atividades humanas
que nele se desenvolveram. Existem muitos topónimos que nasceram dos nomes que
em tempos remotos foram dados a fontes, serras, rios, planícies, etc., mas temos
muitos outros que resultaram da existência de povoados, campos agrícolas, poços,
acampamentos de pastores… Muitos dessas antigas evidências da atividade do
Homem desapareceram sem deixar marca, e delas muitas vezes nada resta além de
um nome que teimosamente resiste à passagem do tempo. Deste modo o estudo da
toponímia assemelha-se à abertura de uma nova janela para o passado, janela
essa que nos permite obter imagens que de outro modo nos estariam vedadas.
Uma das atividades que
marcou fortemente a ocupação do território ao longo de milénios, e
consequentemente marcou a toponímia, foi a pecuária, em especial os locais de
pastagem e os locais de recolha dos gados. Neste breve apontamento analiso
alguns topónimos relacionados com esta atividade, explicando o seu significado
com base nos conhecimentos que já existem sobre a língua de origem fenícia que
está na raiz do português e tentando perscrutar a época em que os topónimos foram
criados.
Carapeto
Vale a pena começar
esta análise pelo topónimo “Carapeto” (e pelos muitos outros que lhe são
foneticamente próximos) porque constitui uma situação particularmente
interessante. Não existe nas publicações mais divulgadas uma explicação para a etimologia
das palavras desta família, e geralmente aceita-se desconhecer a sua origem.
Efetivamente as palavras
deste grupo podem ter vários significados, todos eles de origem fenícia. Quanto
a “carapeteiro”, termo que significa “mentiroso”, pode dizer-se que a palavra
resulta da justaposição de dois radicais fenícios – “qr’” [qarâ] e “pth”[1] [petêe]
– que de resto deram origem a outras palavras do português ainda em uso. O
termo fenício “qr’” significa nessa antiga língua “cara, face”, e veio
precisamente a dar origem à nossa palavra “cara”. O termo fenício “pth”
significa “deixar-se enganar”, e deu origem à nossa palavra “peta” (mentira,
engano, aldrabice). Portanto o “qr’pth” [qarâpetêe] fenício está na origem do
nosso “carapeteiro” com o significado de “mentiroso”. Está bom de ver que este
conceito, por muito interessante que possa ser na vida social de uma
comunidade, não reúne as condições para que se possa transformar em topónimo.
Contudo há palavras da mesma família potencialmente
relacionadas com toponímia, entre as quais está o termo “carapeto” quando
significa “espinheiro bravo”, “pereira brava”, e “espinho” ou “plana
espinhosa”. Há na toponímia um grande número de sítios com nomes que devem ter
a mesma origem, como sejam “Carrapeto”, “Carapeto”, “Carapeteiro”,
“Catapereiro”, “Carrapatosa”, “Carrapato”, “Carrapateira”, etc. A origem destes
termos é uma outra, bem distinta da anterior e a deve-se à evolução de “krrpt”,
termo fenício que significa genericamente “estábulo de cordeiros”.
Repare-se:
kr [kar]– cordeiro, borrego[2]
rpt [rèpèt] - curral,
estábulo
Portanto, Carapeto,
Carapeteira, Carrapateira, Carapito, etc. terão sido locais onde havia currais,
ou melhor, comunidades de pastores, e a palavra deve ter nascido do fenício
precisamente de “Krrpt” [karrèpèt], que significa à letra “estábulo de
cordeiros”[3]. Pode
contudo haver alguns topónimos (por certo raros) em que o nome provenha da
existência de pereira bravas ou de espinheiro bravos (ambos conhecidos por
carapeteiro). De resto, o próprio nome “carapeto” usado tanto para espinho como
para arbusto espinhoso deve ter uma origem interessante que vale a pena referir.
Os abrigos para animais
mais antigos que o Homem construiu terão sido certamente feitos criando de
cercas de arbustos espinhosos, como de resto ainda acontece em algumas regiões
de África[4]. É
claro que cercas feitas para proteger os gados de predadores e de roubos,
construídas de arbustos espinhosos, não deixam vestígio arqueológico, sendo por
isso impossível demonstrar a relação entre o topónimo e a antiga atividade, mas
a analogia com práticas que sobreviveram até aos nossos dias dão crédito à
ideia. Ora, se os recintos assim construídos eram conhecidos por “krrpt”, é
fácil admitir que os arbustos espinhosos que os constituíam tenham ganho o
mesmo nome – “carapeto”. Assim terá o nome das cercas sido aplicado aos
arbustos espinhosos com que eram construídas, e daí a origem dos nossos
“carapeteiros” como arbustos espinhosos[5].
O nome deve ser de uso
muito antigo, desde logo porque está quase ausente da toponímia das ilhas
atlânticas. Outro indício da grande antiguidade do topónimo é o fato de ele ser
usado como nome sem significado, ou seja, quando se refere um local de nome
“carapeto” já não se tem a menor ideia de ele ter sido um curral. Em relação à
determinação da antiguidade deste topónimo deve ainda ter-se em consideração
que a evolução divergente que a palavra sofreu ao longo do tempo é também por
si só um elemento a ter em conta. Enquanto os topónimos recentes não apresentam
variação de pronúncia ao longo da sua distribuição geográfica (por exemplo o
topónimo “estação” é “estação” em todo o lado, e não divergiu para formas como
“istaçam”, “estoção” ou “extensão”), os topónimos muito antigos sofreram essa
divergência fonética regional ao ponto de quase parecerem topónimos de origem
diferente.
Outro elemento que
permite distinguir os topónimos de origem muito antiga dos mais recentes está
no tipo de elemento da paisagem que o topónimo identifica. Ora, sem querer
desenvolver este tema direi apenas que os topónimos criados recentemente não se
referem a espaços vastos e mal delimitados do real, como seja uma região ou uma
serra, mas antes a elemento concretos da realidade. Pelo contrário os topónimos
antigos correspondem com frequência ao nome genérico de uma região, a diversos elementos
dentro de uma mesma região, ou apresentam formas compostas como seja “Relva do
Carrapateiro”, etc.
Um último elemento
confirma a antiguidade deste topónimo: existe um número muito significativo de
sítios arqueológicos do Neolítico e do Calcolítico que ainda hoje têm nomes
desta família, precisamente porque corresponderam a assentamentos humanos que
deixaram vestígio arqueológico[6].
Em resumo, apesar de
não ter sobrado qualquer vestígio arqueológico da atividade, temos a forte
convicção que a maioria dos locais que hoje têm nomes da família de “Carapeto”
foram em tempos locais de acampamento de pastores nos quais os gados
pernoitavam em cercas construídas com arbustos espinhosos.
Curral
O topónimo “curral” é
muito comum entre nós, existindo tanto no continente como nos arquipélagos
atlânticos. A origem da palavra, ainda em uso na atualidade, deve estar em
termos fenícios:
Kr
[kar] (ugarítico e hebraico antigo) – cordeiro
HL
[âal] (hebraico antigo) ovelhas desgarradas
Curral é o local onde
se guardam os animais que têm crias novas. Ainda hoje se faz isso. Quando as
ovelhas parem, separam-se das restantes, deixando-as ficar no curral ao abrigo
dos elementos e dos predadores. Claro que a etimologia proposta geralmente para
a palavra “curral”, como sendo proveniente de “curru”, que em latim significa
“carro”, não faz o menor sentido porque os currais nunca foram nem são locais
para guardar carros, mas antes gado. O termo “curral” está ainda em uso na
nossa linguagem comum e o topónimo é comum tanto nos Açores como na Madeira,
como no Brasil e nos PALOP. Por outro lado tem uma distribuição relativamente
regular no continente, sendo por isso de supor um uso relativamente prolongado
desta palavra e a sua fixação na toponímia igualmente prolongada no tempo. Por
exemplo, no Brasil do século XVII, nas capitanias do Ceará, Maranhão e ao norte
e ao sul das margens do rio São Francisco surgiram fazendas de gado chamadas de
currais[7]. De
facto ainda hoje se pode criar um novo topónimo “Curral”, já que a palavra se
encontra em pleno uso entre nós.
No entanto também se
verifica que há um número significativo de locais com esse nome e com vestígios
arqueológicos muito antigos (desde o Neolítico), o que deixa dúvidas sobre a
antiguidade do uso do topónimo.
Este topónimo “Curral”
contudo, pode ter tido também origem em “kôr”, que significa “forno ou forja” e
estar relacionado com atividades do quotidiano tão simples como fabricar pão ou
fundir minerais para produzir metais. Moisés Espírito Santo, no seu “Ensaio
Sobre Toponímia Antiga”[8]
refere esta possibilidade a meu ver com todo o sentido. É provável mesmo que os
topónimos de origem mais antiga tenham essa origem, enquanto os nascidos há
menos tempo estejam relacionados com gado.
Bardo
Há um grande conjunto
de topónimos da família de “Bardo”: “Burdo”, “Bordo”, “Bordeira”, “Albarda”, “Bardais” (e “Pardais”)… A etimologia do
topónimo bardo é usualmente considerada de “origem duvidosa”. É provável
no entanto que este termo provenha de brd termo Ugarítico com o sentido de “separar, apartar”, relacionado com o
Hebraico “parad” e com o
Árabe “farada”. Se é verdade que é nos currais que se juntam os
rebanhos, não é menos verdade que é nos currais (ou bardos) que se separam
aqueles que se pretendem isolar. No Dicionário de Falares do Alentejo[9]
referem-se significados regionais de palavras próximas de bardo:
Barda
– Divisória de terrenos (Alandroal).
Bardo
– (…) Tapume de madeira num curral. Aprisco.
Bordoada
– Margem de uma linha de água.
De resto, mesmo no
português corrente borda significa “limite, extremidade” (ao contrário
daquilo que sugerem alguns dicionários não é necessário recorrer ao francês
“bord”). Parece-me muito plausível a relação entre o “Brd” [bared]
fenício e o bardo da toponímia, quer no sentido de separação de animais (curral,
aprisco), quer no sentido de limite, fronteira, extremidade, etc. Palavras com a
sequência consonântica “brd” e com o significado de “limite, fronteira” existem
em outras línguas europeias e o mais certo é que o radical “brd” seja
muito antigo e assim seja comum a muitas línguas, mantendo em todas elas um
significado genérico semelhante.
O termo “bardo” ainda é
usado atualmente e deve ter tido um uso muito prolongado no tempo. Existe nas
ilhas atlânticas. Nos Açores usa-se o termo para vedações feitas com arbustos
ou árvores para proteger do vento as hortas, mas também pomares e pastagens.
Existe ainda a forma “bardo do concelho” (ou “bardo do rei”, na ilha do Corvo)
que se refere à separação entre as terras mansas e o baldio. O mesmo nome
existe na ilha da Madeira para essa ideia de fronteira[10].
Contudo é possível que
a própria palavra seja por vezes uma simplificação e “albarda”, termo frequente
na toponímia do continente e ausente nas ilhas atlânticas. Esta possibilidade
deve ser considerada seriamente porque existe um número significativo de sítios
com este nome e com vestígios arqueológicos do Neolítico e Calcolítico. De
resto este topónimo “Albarda” (e outros da mesma família) deve provir de “Ølbrd”
com o significado de “alto da divisão”, e ser um topónimo de fixação muito
antiga relacionado com limites das comunidades.
Travasso
Outra família de
topónimos provavelmente relacionada com os gados e os locais onde eram
recolhidos é a que evoluiu a partir de “TRBŞ” (ugarítico) ou “TARBAŞU”
(acádio). Há muitos “Travessos”, “Travasso”, “Travessa”, “Travassô”,
“Travassós”, “Trave”, etc., que devem ter mesma origem.
Repare-se, mais uma
vez:
TRBŞ
(ugarítico) – curral, cortiço, reserva
TaRBaŞu
(acádio) – estábulo
É claro que pode haver
em alguns casos “travessos” e outros topónimos deste grupo que tenham origem no
“transversus” latino (oblíquo, transversal…) como referência toponímica a
atalhos entre caminhos principais. De resto a designação urbana de “travessa”
terá certamente essa origem. O que se disse a respeito da antiguidade dos
topónimos do grupo “Carapeto” aplica-se para este grupo de topónimos: já se
desconhece o significado original; a divergência fonética conduziu a uma
significativa diversidade de topónimos com a mesma raiz; há um número
significativo de sítios arqueológicos antigos (Neolítico e Calcolítico) que
ainda hoje têm nomes desta família.
Por vezes o próprio
topónimo “trave” pode ter sido uma forma simplificada de TRBŞ, como será o caso
representado no mapa junto em que é duplicado por “Curral Velho”.
Craveira
Topónimos como
“Craveira”, “Corveira”, “Corveiro”, e possivelmente mesmo “Carvoeiro”, ao
contrário daquilo que pode parecer à primeira vista, não têm qualquer relação
com cravos, corvos ou carvão. Muito embora nos dicionários comuns não constem
palavras desta família com significado relacionado com gado, ainda hoje nos
campos do Baixo Alentejo Litoral o termo “corveiro” (sem grafia conhecida e com
pronúncia difícil de reproduzir por escrito - pronuncia-se talvez “cârveiro” ou
“crâveiro”) é utilizado, significando “abrigo para chibos jovens”.
Os termos “Corveiro”,
“Craveira”, etc. são como os anteriores de origem fenícia, e como alguns deles
contêm o radical “kr”, que significa “cordeiro”. A parte final destas palavras,
o “veiro” deve ter nascido de “vr’”, palavra fenícia que significa “criar,
engordar”. Assim, o “Corveiro” será traduzido a letra do fenício, “engorda de
borregos”.
Há cerca de quatro
dezenas de sítios arqueológicos registados na “Base de Dados Endovélico” nas
proximidades de locais com nomes deste grupo. No entanto são quase sempre
posteriores à Idade do Bronze e mais frequentemente posteriores ao Período
Romano.
Roupeiro
Na Beira Baixa, no
Alentejo, e mesmo no Algarve usa-se o termo “roupeiro” para designar homem que
fazia queijos e que frequentemente era também pastor. Compreende-se que devido
à tradicional transumância dos gados, em que se ligavam os campos do sul às
serras do centro e do norte, e em que os pastores percorriam a pé com os
rebanhos centenas de quilómetros, que o pastor fosse não só o guarda dos
rebanhos, mas também o produtor dos queijos[11].
Daí a associação do nome a esta dupla função. Mas este nome deve ter nascido da
atividade de pastor e ter contaminado mais tarde a produção de queijos.
Observe-se que em fenício “rê’uparru” significa literalmente “pastor de
ovelhas”. Portanto, e ao contrário daquilo que possa parecer, este “roupeiro”
não tem qualquer relação com roupa ou com locais destinados a guardá-la.
É um topónimo pouco
frequente e possivelmente relativamente recente, dado que não ocorre em
associação com estações arqueológicas. Também aponta para a sua pouca
antiguidade o facto de não surgirem formas corrompidas do termo original. Em
qualquer dos casos convém perceber que, por exemplo o “João Roupeiro” do
concelho de Aljezur, não é mais que a evolução (recente) de “šwh rê’uparru”,
que significa “planície de pastagem” ou “planície do pastor”.
RAPOSA
A origem do topónimo
“Raposa”, e dos que com ele partilham a mesma raiz, como “Raposeira”,
“Raposinha”, etc., tem certamente relação com pastores e em especial com
pastagens (podendo por vezes ter relação com a existência do carnívoro do mesmo
nome). É portanto um topónimo muito enganador, já que sugere a possibilidade de
se referir à existência do pequeno predador, quando efetivamente corresponde a
uma outra e bem diversa realidade. Anote-se que em vastas regiões do país o
carnívoro a que muitos chamam de “raposa” é conhecido por “zorra” e apesar
disso existem topónimos “Raposa”. A origem deste topónimo está certamente em “rØh”, com o significado de “pastar,
apascentar” ou em “rØi”, que significa “pastagem”, e em “aps” que significa “extremo, topo,
remate”. Assim, “rØhaps” deve ter dado origem a muitos dos topónimos deste grupo com o
significado de “limite da pastagem” ou “limite do pastor”. Claro que a
pronúncia original foi evoluindo com o passar do tempo até que acabou por se
confundir com a palavra “raposa” ou com outras como “raposeira”.
Este termo antigo “rØhps” deixou marca nos falar de algumas
regiões do país. Por exemplo a palavra “rapujar”[12]
é ainda hoje na ilha do Pico (Açores) como sinónimo de “pastar na relva”. Por
outro lado “raposinha”[13]
é um termo que em Vila Real designa “erva rasteira”, pasto que é o mais
apropriado para as ovelhas.
Para que se possa
compreender por que motivo penso que este é um topónimo bastante antigo,
impõe-se uma explicação prévia. As comunidades rurais tradicionalmente possuíam
terrenos livres, ditos de “baldios” (em tempos também designados por
“charnecas”). Embora não tivessem sido alvo de apropriação individual, os
baldios estavam ligados a comunidades das suas regiões, ou seja, eram
“propriedade coletiva” de uma aldeia ou eram mesmo terrenos de acesso livre a
pastores de fora da região. As serras e outros terrenos menos produtivos do
país foram baldios e o direito ao seu uso era geralmente dividido pelas
comunidades limítrofes em função de normas cujas origens se perdem no tempo.
Ora esses limites das comunidades
eram limites dos baldios, mas tornaram-se também limites de freguesia, de
concelho (porque os concelhos resultaram da coalescência de unidades menores) e
de distrito (porque o distrito resultou da coalescência de concelhos). Assim
ainda hoje se encontram muitos topónimos “Raposa”, “Raposeira”, etc. junto a
estes limites.
Outra característica
curiosa que se associa a este topónimo é o facto de haver muitos vestígios
arqueológicos antigos em locais com este nome.
Acrescente-se que muitos deles são antas, mamoas e necrópoles de épocas
mais recentes. Este facto, evidentemente, não tem uma relação significativa com
pastagens, mas é consequência de se tratar de um limite. Nota-se que muitos dos
limites/fronteiras estabelecidos em tempos muito remotos eram assinalados com
monumentos vários, mas em particular por sepulturas. Funcionaria mesmo como uma
“certidão” de propriedade da comunidade: a prova de que a terra pertence a
alguém está no facto de já os seus ancestrais aí estarem sepultados.
Ruivo
Com frequência os
topónimos “ruivo” ocorrem junto a ribeiras, em vales de pastagens naturais
densas e abundantes. Por isso parece provável que “ruivo” seja na origem o nome
dado a locais de pastagem fortes existentes nos vales de rios e ribeiras, e
seja proveniente de “røievu”, que em fenício significa “pastagem espessa”. Na
“Base de Dados Endovélico” pode perceber-se que existe um significativo número
de sítios arqueológicos classificados como “via” e identificados com topónimos
deste grupo. Este facto não deve ser tomado como consequência de “Ruivo” ter
alguma vez significado “via”, “estrada”. Essa realidade resulta apenas de as
estradas antigas (e muitas das atuais) apresentarem traçados que percorrem
vales, como melhor forma de vencer os declives. Ora a estrada, ao passar em
vales está também a passar em planícies férteis de pastagens densas. Desse modo
passa em locais de nome “Ruivo”.
Tenho a noção de que
haverá outros locais cujos nomes sejam relacionáveis com a criação de gado e
pastoreio. Não penso por isso ter esgotado o recenseamento dos topónimos deste
grupo, mas julgo dar deste modo um contributo para o conhecimento dos
principais topónimos deste grupo e sobretudo para criar uma nova forma de olhar
e interpretar a toponímia. Se assim foi, já atingi o meu primordial objetivo.
[1] - Os termos fenícios usados neste trabalho foram
recolhidos no “Dicionário de Fenício-Português” de Moisés Espírito Santo. A
escrita original das línguas nele tratadas era geralmente consonântica pelo que
os sons vocálicos têm que ser acrescentados pelo leitor. A fonética provável de
cada expressão é explicitada entre parêntesis retos.
[2] - este “kr” está evidentemente na origem de palavras
como “carneiro” e “cordeiro”.
[3] - A origem pode também estar em “kh rpt” em que o “k”
surge como um prefixo de localização. De resto este “kh” surge como prefixo em
outros topónimos comuns em Portugal, como seja “Castro” (khstr – aqui proteção)
ou “Cabana” (kh bn – aqui casa).
[4] - É o caso bem conhecido das “boma” Maassai da
Tanzânia.
[5] - A este respeito ver também “Do Carapeto ao
carrapito” sobre a evolução fonética e semântica do “krrpt fenício, disponível
em: https://www.academia.edu/18386989/Do_Carapeto_ao_carrapito
[6] - Este facto pode ser confirmado com uma simples
consulta à “base de dados Endovélico” da Direção Geral do Património Cultural.
[7] - In:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Curral
[8] - Moisés Espírito Santo, Origens Orientais da Cultura Popular Portuguesa seguido de Ensaio Sobre Toponímia Antiga, Assírio
& Alvim, 1988
[9] Barros, B. F. e Guerreiro, L. M. Dicionário de
Falares do Alentejo, Porto, Campo das Letras, 2005.
[10] - J. M. Soares de Barcelos, Falares dos Açores, Edições Almedina, 2008
[11] -“Roupeiro” no Dic. do Falar de Trás-os-Montes é
“vendedor de queijos”.
“Roupeiro” no Dic. do
Falar Algarvio é “homem que faz queijos”.
“Roupeiro” no Dic. de
Falares do Alentejo é também “homem que faz queijos”
[12] - Dicionário de Falares dos Açores
[13] - Dicionário do Falar de Trás-os-Montes e Alto Douro
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