quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O NOSSO "PREGO" E AS DOBRAS LATINAS


Costuma aceitar-se que a nossa palavra “prego”, bem como o verbo “pregar” tenham nascido do “plicare” latino, que significa “dobrar”, ou “enrolar”. Usava-se essa palavra quando por exemplo se  enrolava um manuscrito, portanto o termo latino não tinha qualquer relação com a nossa ideia de "pregar" portanto de "trespassar", "cravar", etc.  Evidentemente que, tal como aconteceu com centenas de outras palavras, a origem latina foi procurada de forma imaginativa mas pouco científica, e não é aceitável nem lógica.
O “pregar” português deve ter nascido da forma fenícia “”pr’rq” que significa numa tradução à letra “trespassar batendo com um martelo”. Parece assim que após metátese o “pr’rq” passou a “pr’qr” e esse “preqar” abrandou para a forma “pregar”. 
É interessante este exemplo principalmente porque, ao contrário do que é mais comum, parece que neste caso não foi o objeto que deu origem ao verbo, mas o contrário.

Para saber mais sobre a origem das nossa palavras ver "A Origem da Língua Portuguesa" , por exemplo em:
 http://www.fnac.pt/A-Origem-da-Lingua-Portuguesa-Fernando-Rodrigues-de-Almeida/a727480

domingo, 26 de janeiro de 2014

O Indo-Europeu e o Homem de Piltdown


O "homem de Piltsdown”, foi um fóssil “descoberto” em 1912 no Reino Unido e anunciado ao mundo como o fóssil do hominídeo que fazia a transição entre o macaco e o Homem. De algum modo provava ou pelo menos sugeria que o Ser Humano, a vida inteligente, tinha começado em terras de “Sua Majestade”. Este achado teve grande impacto na época e abafou mesmo descobertas sérias como a do Australopithecus africanus. Como poderia ser possível que a vida inteligente não tivesse começado em Inglaterra? Como se poderia aceitar que sua majestade descendesse dos africanos?
Contudo a descoberta foi desmascarada em 1953, quando os cientistas do museu e da Universidade de Oxford revelaram que o “homem de Piltdown” era falso. Suspeita-se que a mandíbula e o canino eram de um orangotango e foram colocadas junto ao crânio de um humano moderno. A verdade é como o azeite: acaba sempre por vir à tona!


O Indo-Europeu teve um nascimento com motivações semelhantes. Como se poderia aceitar que as línguas da Europa, as línguas das nações mais poderosas do mundo, tivessem nascido no Médio-Oriente? Jamais! Os nossos pais linguísticos e culturais não poderiam vir do sul, semitas, sabe-se lá se mesmo judeus!!! Por outro lado era bom associar o inglês às línguas das antigas elites indianas: se o sânscrito e i inglês eram parentes, estava justificado o direito ancestral dos ingleses ao domínio da Índia.
Os factos contudo mostram que as línguas do leste do Mediterrâneo antecedem e certamente deram origem às restantes do mundo ocidental. É verdade que em sânscrito  sarpaḥ significa “serpente”, e `que a raiz “serpe” é comum a muitas línguas europeias modernas com o significado de “serpente”, mas … em fenício “srp” também significa “serpente”. O mesmo acontece com muitas outras palavra com as quais se tenta demonstrar a existência de um ramo humano linguístico e cultural “indo-europeu”.
De facto não existe qualquer evidência histórica, arqueológica, ou mesmo genética desta construção teórica e ideológica a que se chamou “indo-europeu”, e por isso é melhor começar a repensar a questão com seriedade e espírito científico.

A verdade é como o azeite, mas às vezes demora algum tempo a vir à tona. 

sábado, 18 de janeiro de 2014

A "QUELHA", A "CALLE" A "CALE" E O "CANALE"

Não restam dúvidas que as “Cale” da região de Aveiro são “canais”. Existem também os termos “cale” e “quelha” em português que equivalem à “calle” espanhola, que é um caminho ou uma rua, e ainda um tipo de embarcação usado nos rios do Minho a que se chama “cale” (um barco de fundo chato para navegar em canais pouco profundos). Correspondendo a ideia próxima e com uma fonética também semelhante temos ainda a palavra “calha”.



Costuma dizer-se que o nome vem do latim, de “canale”, que significa “canal”. No entanto, muito embora seja uma possibilidade aceitável, penso que entre nós a ideia genérica encerrada na sequência consonântica “c*l*” corresponde mais à ideia fenícia que se relaciona com situações em que a passagem de qualquer coisa é condicionada: seja de pessoas num caminho emparedado (a quelha, a calle, a cale) seja de água (a cale, a calha) seja de condicionamento de circulação de outros objetos (a calha “corrediça”, a calha “técnica”).
Repare-se que em acádio e em assírio “kalu” significa “conter, levar”, “kl’” em hebraico antigo significa “confinamento” e “klh” em hebraico antigo e “kla” em ugarítico quer dizer “encerrar”. Esta ideia geral de “conter, encerrar, confinar” é precisamente a que conduz tanto ao nosso “c*l*” como mesmo ao radical latino “c*n*l*” (de que é exemplo o “canale”). Sei que esta última ideia é um pouco mais difícil de perceber, mas vou tentar explicar o que penso que aconteceu:
Está fora de dúvida que as línguas antigas do Próximo Oriente são as mais próximas da antiga línguas do Neolítico que com a passagem do tempo vieram a difundir-se pelo mundo. O latim, como outras línguas antigas, bebeu nesta língua neolítica primordial, e muitas palavras latinas são composições criadas a partir dos radicais “fenícios”. É o caso deste termo latino“canale”. Em fenício “q*n*” é “cana, tubo, canudo”, etc.; por outro lado, como se viu, “k*l*” é “conter, encerrar, confinar”. O interessante é que a evolução fonética de “q*n*k*l*” se faz para “q*n*(k*)l*” e para “q*n*l*” (canale) e com significado que corresponde à junção dos dois radicais primordiais: “cana ou tubo confinante”, portanto “canal”. Sei que este fenómeno é complexo e não o conheço descrito por outros autores, mas tenho-o verificado em vários outros casos.

Em qualquer dos casos, e voltando às coisas mais simples, parece-me claro que o “canale” latino chegou até nós por via erudita através das elites urbanas e religiosas latinizadas dando origem ao nosso “canal”, mas as “quelha”, “calha” e “cale” são coisas do povo e da sua língua, e por isso são de origem popular e fenícia.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O BARLAVENTO E O SOTAVENTO





Usamos ainda hoje estes termos, tanto entre os marinheiros como enquanto designação de regiões. O “barlavento” é a área virada ao vento, a que está na direção do vento, a do lado do vento, enquanto o “sotavento” é a do lado oposto ao vento, portanto a que fica abrigada. A pergunta que se pode colocar é precisamente “qual a origem destes dois termos”? Por que motivo chamamos “barlavento” ao lado de onde sopra o vento? E porquê “sotavento” para o lado oposto?
Os dicionários consultados consideram ambas as palavras de “origem obscura”, pelo que em nada podem contribuir para o esclarecimento da situação. 
Sabendo-se que o “vento” de ambas é de origem latina, fica por clarificar a origem do “barla” de “barlavento” e o “sota” de “sotavento”.
Ora, parece que mais uma vez se pode encontrar no “fenício” a origem destas palavras. Em assírio “balru” significa “direção”, pelo que é fácil aceitar que o “balruvento” deu origem ao nosso “barlavento” após uma evolução fonética muito simples. O significado é indiscutivelmente semelhante, já que “balruvento” quer dizer precisamente o mesmo que “barlavento”, e que é simplesmente “direção do vento”.




Já em relação ao “sota” de “sotavento” parece que a situação é um pouco mais complexa. A palavra “sute”, em acádio e assírio significa “vento sul”, ou simplesmente “sul”, mas a palavra “sade” quer dizer “vento do oriente”. Pensando no Algarve, vemos que o “sotavento algarvio” é a parte oriental do Algarve, mas já se a referência for o arquipélago de Cabo Verde, o “sotavento” é o conjunto de ilhas que ficam a sul. Em qualquer dos casos trata-se de territórios que têm junto de si outros espaços por onde o vento dominante passa antes, a que se chama de “barlavento”. 



No caso do Algarve o vento dominante sopra de barlavento para sotavento, e outro tanto ocorre em Cabo Verde. Fica a hipótese de este “sotavento” corresponder à localização oposta à dos ventos dominantes, que por estas paragens do hemisfério norte vem dos quadrantes oeste ou norte. Daí que o nosso “sotavento” poder ter sido na sua origem o vento sul ou oriental, raro e oposto ao vento dominante. 

Se alguém tiver uma explicação mais interessante...

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

ORIGEM E SIGNIFICADO DO TOPÓNIMO "ÍLHAVO"

É possível que o topónimo “Ílhavo” signifique “costa das febres” e seja proveniente de “iili’abu” ou “iili’avu”. O radical “ii” significa em hebraico antigo “costa, litoral, ilha” e tem equivalente em ugarítico no termo “ay” ao qual é dado o significado de “ilha”. O termo “li’avu” é proveniente da “terapêutica mesopotâmica” (que é um glossário assírio especialmente interessante por conter termos ligados à medicina), e significa precisamente “febre”. Daí a possibilidade de “Ílhavo” ter significado originalmente “terra da febre”, e o nome de toda a região ter mais tarde ficado ligado à povoação.


Não me parece descabida esta possibilidade, visto que em tempos recuados a costa marítima seria precisamente onde está hoje o rio Boco, e os terrenos que hoje existem a Oeste seriam primeiro mar aberto, e mais tarde pântanos. De resto toda essa região a Oeste de Ílhavo é dominada por locais de nome “gafanha”: é a da “Nazaré”, a de” Aquém”, a da “Boavista”, a da “Encarnação”, a do “Carmo”, a da “Vagueira”, a da “Boa Hora”, a do “Areão”… Quer isto dizer que toda aquela região era terra de “gafos”, ou seja, de leprosos. Portanto deve ter-se tratado de uma área inóspita, pantanosa e cheia de mosquitos, certamente em certos períodos com paludismo endémico.
Esta possibilidade pode de algum modo ser confirmada com a existência do topónimo “febres” no sul da antiga “costa velha”, no concelho de Cantanhede, que será a tradução para português atual do topónimo “Ílhavo”.
José Pedro Machado refere o uso de várias grafias antigas para este topónimo: “Iliauo” entre 1037 e 1065; “Iliauo” e “Iliabum” em 1088; “Ilauum” em 1095; “Ilhauo”  em 1176; “Ilhevo” e “Ilhovo” no séc. XVI.  É de notar que em especial as formas mais antigas são muito próximas do “iili’abu” fenício.
Dados todos estes factos sou de opinião que o topónimo “Ílhavo” deve ter nascido de “iili’abu”, com o significado de “costa das febres”, e que constituía designação genérica de toda a costa pantanosa da região da atual Ria de Aveiro. Mais tarde o topónimo acabou por ficar associado a um dos seus povoados mais antigos, a atual cidade de "Ílhavo".