sábado, 28 de dezembro de 2013

As charnecas em Portugal e no Brasil


Os nossos dicionários geralmente incluem a palavra “charneca” num grupo de palavras que classificam como sendo “de origem obscura”.  Estas palavras ditas “de origem obscura” são quase sempre de origem fenícia, e não é necessário muito esforço para encontrar essa mesma origem. No caso da “charneca” existe uma característica que aparentemente complica a compreensão da sua etimologia: em Portugal as “charneca” são quase sempre terrenos arenosos, pobres e secos, enquanto no Brasil correspondem a terras pantanosas e alagadiças. Alguns vêm nesta diferença uma contradição estranha e inexplicável,  porque julgam que a origem do nome está diretamente relacionada com as características físicas da terra.
De facto o nome não nasceu da maior ou menor secura do terreno, mas antes da característica de se tratar de “terra sem dono”. Etimologicamente a nossa “charneca” teve origem em “ṣeru”, que em acádio e assírio significa “planície, campo, estepe”. A este radical, que originou o início da palavra, juntou-se um outro, o “nqh”, que significa “ser livre, estar isento”. Assim, a nossa palavra “charneca” nasceu da forma “sernqh” e desta ideia de “terreno sem dono”, “terra livre”, “estepe ou campo livre”, o que pelo menos em certo período tanto se aplicava aos terrenos arenosos e pobres de Portugal, como a terrenos pantanosos do Brasil.

Carta n.º 603 dos S.C.E. na esc. 1:25000

Curiosamente existem na toponímia portuguesa marcas da apropriação dessas terras que em tempos foram “livres”. Em várias situações os topónimos “sesmaria” (ou “sismaria”) e “charneca” ainda hoje são muito próximos. Observem-se os exemplos que junto.


Carta n.º 555 dos S.C.E. na esc. 1:25000

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