Os nossos dicionários geralmente incluem a palavra “charneca”
num grupo de palavras que classificam como sendo “de origem obscura”. Estas palavras ditas “de origem obscura” são
quase sempre de origem fenícia, e não é necessário muito esforço para encontrar
essa mesma origem. No caso da “charneca” existe uma característica que
aparentemente complica a compreensão da sua etimologia: em Portugal as “charneca”
são quase sempre terrenos arenosos, pobres e secos, enquanto no Brasil correspondem
a terras pantanosas e alagadiças. Alguns vêm nesta diferença uma contradição
estranha e inexplicável, porque julgam
que a origem do nome está diretamente relacionada com as características físicas
da terra.
De facto o nome não nasceu da maior ou menor secura do
terreno, mas antes da característica de se tratar de “terra sem dono”.
Etimologicamente a nossa “charneca” teve origem em “ṣeru”, que em acádio e
assírio significa “planície, campo, estepe”. A este radical, que originou o
início da palavra, juntou-se um outro, o “nqh”, que significa “ser livre, estar
isento”. Assim, a nossa palavra “charneca” nasceu da forma “sernqh” e desta
ideia de “terreno sem dono”, “terra livre”, “estepe ou campo livre”, o que pelo
menos em certo período tanto se aplicava aos terrenos arenosos e pobres de
Portugal, como a terrenos pantanosos do Brasil.
Carta n.º 603 dos
S.C.E. na esc. 1:25000
Curiosamente existem na toponímia
portuguesa marcas da apropriação dessas terras que em tempos foram “livres”. Em
várias situações os topónimos “sesmaria” (ou “sismaria”) e “charneca” ainda
hoje são muito próximos. Observem-se os exemplos que junto.
Carta n.º 555 dos
S.C.E. na esc. 1:25000
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