Mapa em que se localiza a
Oeste da Irlanda uma imaginária “ilha Brasil”
Abraham Ortelius em 1572
É
sabido que uma mentira, repetida mil vezes, passa a ser verdade, ou pelo menos
todos a passam a aceitar como se fosse. Foi assim que aconteceu com a
explicação que se deu para a origem do nosso “Brasil”: tanto se bateu na
tecla do “pau brasil”, na “cor de brasa”, no vermelho, que se passou a aceitar
a ideia sem fazer mais perguntas. No entanto…
José Pedro
Machado[1], atestando com
fontes seguras, mostra que a palavra “brasil” já era usada em 1377 (logo muito
antes da descoberta do Brasil) referindo-se a “terras distantes”: “E de brasill
que trouuerem ou leuarem também vezjnhos come os que nom som vezjnhos pagam
dizjmas…””. A palavra usava-se no
sentido de “colónia distante” e não tinha qualquer relação com a cor
avermelhada da madeira (o tal “pau brasil”), nem com qualquer outra coisa
vermelha.
A
cartografia medieval inclui com regularidade uma “Ilha Brazil” (designada
também por vários nomes foneticmente próximos, como “Ie Brezil”) em locais vários
e isolados do “mar oceano”, e em todos os casos refere-se a localizações
isoladas e remotas a Oeste da Europa.
De
onde vem então este “brasil” que veio a dar o nome ao nosso país irmão? Quem
acompanhe este blog ou simplesmente tenha lido “A Origem da Língua Portuguesa”,
não estranhará que a origem do nome se possa encontrar no fenício.
De
facto, em fenício o termo “br’” [brâ] significa “arrotear, desbravar”. As
sequências consonânticas “br” ou “pr” são,
na toponímia portuguesa, das mais comuns, e referem-se geralmente a terras abertas, limpas de vegetação natural,
terras de semeadura. Existem muitas centenas ou milhares de topónimos que
incluem este radical.
Já a palavra
“aṣil” [asil], que significa “partes mais remotas da Terra” é, como se
compreende, muito raro, surgindo em palavras como “Azilheira” (parte mais
remota da serra), “Benagazil”, (casa da parte mais isolada do ribeiro),
“Aguazil” (parte mais isolada do ribeiro), etc. As formas “Brasil”, “Brasileiro”,
etc. podem referir-se a nomes dados a locais habitados por emigrantes
regressados do Brasil, e devem ser relativamente recentes.
Na
nossa Ilha Terceira, nos Açores, existe tambémum “Monte Brasil”, que é
evidentemente uma penísnsula isolada na entrada de Angra do Heroísmo.
Monte Brasil, visto do mar e
em representação cartográfica, Ilha Terceira, Açores.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Monte_Brasil,_visto_do_mar,_Ilha_Terceira,_A%C3%A7ores.jpg
Assim,
“brasil” é o nome dado aos campos arroteados nas “partes mais remotas da
Terra”, que era evidentemente no início do século XVI a terra que acabava de
ser descoberta no continente americano. A nobreza e o clero, as gentes
poderosas do século XVI, bem tentaram chamar-lhe “Monte Pascoal”, “Ilha de Vera
Cruz”, “Terra de Santa Cruz”, “Nova Lusitânia”, “Cabrália”, etc., mas no fim
venceu o povo que na sua linguagem corrente ainda com forte influência fenícia a conhecia simplesmente por se tratar de uma
colónia distante: Brasil
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ResponderEliminarNa ilha da Madeira, concelho da Calheta, a oeste da freguesia do Lmbo do Doutor encontra-se outro lombo que se chama Brasil (cordenadas Google Earth: 32º43'58.35"N 17º09'49.62"O). A quando da descoberta do Brasil este nome já existia na ilha. Logo, o seu raciocínio, está correcto.
ResponderEliminarNão encontrei este lugar na madeira. As coordenadas estão corretas? +32.7328750, -17.1637833
EliminarÉ óbvio que a palavra brasil (brasas de braseiro) é anterior ao Brasil, por isso mesmo ao Pau Brasil assim se chamou, por fazer lembrar algo que toda a gente conhecia à séculos... tudo o resto à volta da palavra é "conversa p'ra boi dormir"!!! ��
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