Conhecer a língua falada pelos nossos antepassados pode converter-se numa ferramenta sem igual para a pesquisa arqueológica. O estudo da toponímia dos nossos campos, quando realizada com base neste novo conhecimento, ajudará em muito aos levantamentos de campo e pode mesmo ajudar a esclarecer as funções de certos achados.
Dou alguns exemplos para que melhor se perceba: os topónimos que incluem o radical "cabra" usualmente referem-se a sepulturas. "Qabru" em acádio é "sepulcro"; "qbr" em ugarítico tem o mesmo significado, e "Qèbèr" em hebraico antigo é o mesmo. Assim, "Cabeça da Cabra" significa "cemitério", já que deve provir de "qbs qbr" que significa "sepulturas juntas" ou "concentração de sepulturas". Também o comum topónimo "Cabra Figa" se refere a sepulturas, mas neste caso de "incineração". "Cabra assada" é a evolução de "qbr asad" que não é senão "encosta das sepulturas".
Já nem comento tontices como a de admitir que "Cabra Assada" teria sido nome nascido de um petisco entre amigos em que a vítima era uma cabra. É claro que este tipo de interpretações é despropositado e infantil, e devia ser de uma vez afastado de qualquer área de conhecimento que se reclame de ciência.
Conforme "cabra" na maior parte dos casos nada tem que ver com domésticos do Homem, também topónimos como "Cardo", "Cardosa" ou "Cardoso" devem ter geralmente pouca relação com a planta espinhosa a que chamamos "cardo". "Qaradu" (ou "qrd") significa "guerreiro", "herói" e "âz" é "ser forte" (daí também o nosso "ás"). Logo "Monte da Cardosa" é provavelmente um local onde existiu uma fortificação com guerreiros.
Os milhares de topónimos diferentes que existem em Portugal, depois de devidamente estudados e compreendidos trarão novos conhecimentos. Veja-se ainda como exemplo simples, que os topónimos que contêm o radical "alc" correspondem a realidades relacionadas com caminhos. Há seguramente topónimos "Alcaide" que significam apenas "junto ao caminho".
Penso por isso que quem queira evoluir na arqueologia de campo terá que mais cedo ou mais tarde compreender (e aprender) a origem da língua portuguesa.
E sendo assim, mais vale cedo que tarde.
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