Uma grande parte dos topónimos, com o passar do tempo e com
a evolução da língua falada pelo povo, deixaram de ser usados como referências
concretas aos eventos que justificaram o seu nascimento. Desse modo seguiram um
de dois caminhos: alguns evoluíram foneticamente para palavras existentes na
língua em uso; outros mantiveram a fonética próxima da original e passaram
apenas a significar o evento que nomeiam.
Existem abundantíssimos exemplos de cada uma das situações.
Como exemplo da primeira possibilidade podemos tomar o caso de “GRØMDHAZ”, que
inicialmente significou “hospedaria segura” e que evoluiu quer para “Grão de
Aço” quer para “Grandaços”; também o termo “ŠWH” fenício, que significa “ser
plano, estar nivelado, etc.” (e que veio a evoluir para a nossa palavra “chão”),
deu origem a topónimos como “Chã” e “Chão”, mas também a “João”.
Em outros casos os nomes dos sítios valem por si só, e nem o
povo tenta uma explicação para a sua origem. Chama-se assim, porque assim
sempre se chamou, e isso basta. Esse é o caso do grupo de topónimos “Godel” e “Godelo”
que primeiro vou tratar. Depois falaremos de nomes que evoluem para parecerem
palavras atuais.
J. P. Machado, no seu “Dicionário Onomástico e Etimológico
da Língua Portuguesa” sugere uma origem germânica pata “Godel”, mas não explica
porquê, nem tão pouco qual seria nesse caso o significado da palavra. Evidentemente
que a origem germânica de topónimos portugueses como estes é pura ficção
nascida de uma ideologia europeísta e anti meridional, mas sem o menor
fundamento. Os nossos topónimos de raiz “GDL” provêm de formas fenícias como “gadôl”
ou “godel”, que significam “ser grande em tamanho, em altura, em importância, em
extensão, em riqueza, em poder, etc.”.
Os topónimos desta raiz, como “Godel” e “Godelo” foram frequentemente atribuídos
a formas de relevo que correspondem a serras isoladas na paisagem, conforme se
pode observar nos mapas que se seguem.
Uma possibilidade, por certo mais difícil de compreender,
mas também mais interessante, é a de a sequência “GDL” ter evoluído para “GDR”
por troca entre as líquidas “L” por “R”, e em seguida ter sofrido uma metátese “GDR”
para “GRD”. Dessa evolução terá em muitos casos nascido o topónimo “Gordo”. Há
largas dezenas de “Cabeça Gorda” e de “Cabeço Gordo”, que devem ter nascido por
essa via. De resto, a própria palavra “gordo” pode ter esta origem, e ao
contrário daquilo que geralmente se afirma não ter nascido do “gurdus” latino,
que “estúpido, labrego, grosseiro”.