Com o desenvolver da investigação que vou realizando sobre a
toponímia de origem fenícia, cada vez mais me vou apercebendo da grande
antiguidade de alguma dela. Já tinha reparado (e escrito) que entre os topónimos de muito
grande antiguidade se podiam referir os da família de “zebro” e de “sobro” (por
exemplo “zebral” e “sobral”) que têm origem no radical fenício "sbr",
que significa "amontoar, fazer um monte". O nome deve ter sido usado
em várias situações em que se criava um monte artificial, e não será necessário
dizer que existe um número anormalmente grande de mamoas[1]
e antas em Portugal que estão em locais conhecidos como "Zebro",
"Zebra", "Sobro", “Sobral”, “Zebral”, etc. Concluo daí que estes
nomes foram criados na época em que as mamoas foram feitas, ou seja
durante o Neolítico e Calcolítico. Por isso o nome se refere ao processo construtivo
- "amontoar, fazer montes", e não à forma existente cuja origem se
desconhece.
Outros topónimos que o povo português ainda hoje usa quando
se refere a antas ou dolmens, bem com às mamoas que por vezes ainda os cobrem, são “orca”
ou “arca”. Têm ambos a mesma origem e foram igualmente criados aquando da
construção desses montes artificiais a que hoje chamamos “mamoas”. Tal como no
caso dos do grupo “zebro” também estes se referem ao processo construtivo, já
que em fenício “Ørk” (pronunciado “ãerk” ou “õerk”) significa também “montar em
camadas, empilhar”.
Por último existem os topónimos que nasceram dos radicais
fenícios “sll Øth” [sellãete], como “Selada” ou “Soldo”. Este “sellãete”
significa igualmente “cobrir a construção”, “envolver a construção”, “cobrir
amontoando”, etc. Uma investigação simples permite ver que existem antas e
mamoas com nomes dessa família[2].
É interessante perceber que em todos os casos os nomes que
criaram os topónimos atuais nasceram do processo de construção, ou pelo menos
foram criados por pessoas que conheciam o processo construtivo: sabiam que
aquelas elevações correspondiam a montes artificiais feitos pelo Homem, o que
só pode ter sucedido a gentes contemporâneas da sua construção ou que ainda usassem o espaço de algum modo. Ora esta
conclusão permite deduzir que se trata de topónimos muito provavelmente criados durante o Neolítico
ou Calcolítico, e portanto que nestas recuadas épocas já por cá se falava esta
língua a que venho a chamar de “fenício”.
Por último, um dos nomes que ainda hoje se usa para designar
aquelas construções, a “anta”, pode provir de “mat” que significa “morto, cadáver”.
Do ponto de vista fonético é absolutamente normal que o “m” ou o “n” que
existia no início das palavras nas línguas do Próximo Oriente tenham sido entre
nós nasaladas passando a “am” ou “an” (que foneticamente é o mesmo)[3].
Portanto do termo fenício “mat”, passou-se a “amt”, e daí à atual pronúncia “anta”.
Compreender a nossa antiga língua permite abrir uma janela
que antes estava fechada…
[1] - Anoto aqui, como observação marginal, que a palavra
que hoje usamos, "mamoa", existe pela semelhança à "mama",
ou seja, foi criada tendo em conta apenas a sua forma e não o seu conteúdo
interior ou o processo construtivo. É por isso um termo muito mais recente dado
por um observador que só aprecia a forma.
[2] - Basta por exemplo consultar a “Base de Dados Endovélico”
(em: http://arqueologia.igespar.pt/?sid=sitios)
para verificar a quantidade anormalmente grande de sítios arqueológicos do Neo-Calcolítico
que existem registados com estes nomes.
[3] - É o caso da nosso verbo “andar”, que nasceu do termo
fenício, “ndd” [nade]>[ande], é “marchar, vaguear, mover”.
Sem comentários:
Enviar um comentário