A obcecação europeísta e antissemita,
que criou a construção teórica do “indo-europeu”, tem impedido a compreensão de
que a bacia do Mediterrâneo foi uma unidade cultural e linguística contínua, e
não um espaço de confronto de civilizações com origens distintas. Essa grande
comunidade cultural primitiva nasceu da grande difusão civilizacional que foi a
diáspora neolítica dos povos do Médio Oriente que, pouco a pouco, foram
ocupando terras de bom potencial agrícola até essa época sem ocupação humana
permanente.
Imbuídos dessa ideologia fomos ignorando
que há muito de comum entre as sociedades, línguas e culturas do Médio Oriente
e as de vastas áreas do Mediterrâneo, procurando pelo contrário no interior do continente
europeu a origem das culturas Mediterrâneas do sul da Europa. É evidente para
quem se detenha a pensar, mesmo que brevemente, sobre a evolução aquilo a que
chamamos de “civilização”, que a Europa esteve durante muitos milénios a uma enorme
distância cultural e tecnológica do Médio Oriente. Já existiam povoados de grandes
dimensões a que alguns chamam de cidades naquela região, e na maior parte da
Europa ainda se vivia da caça e da recoleção.
Esta realidade vai ainda hoje sendo
o mais possível ocultada pelos países do norte (os mesmos que “inventaram” a
ideologia do “indo-europeu”) procurando criar um “berço” da civilização na
Grécia antiga, como se ela mesma não fosse apenas uma extensão natural da
civilização Médio-Oriental. Daí que mesmo ao nível do nome dos seus deuses… há
coisas muito curiosas.
Hera, na
mitologia grega é irmã e esposa de Zeus e rege a fidelidade conjugal, e pode
ostentar na mão uma romã, símbolo da fertilidade.
– Hera (fertilidade) – o nome da
deusa deve ter nascido da sua característica de propiciar a fecundidade.
Repare-se que “hr” [êr] ou “hry” [êri] em ugarítico, “hrh” [êrê] em hebraico
antigo, bem como “eru” em acádio, significa “conceber, engravidar”. Não tem
certamente relação com a ideia de “ar” (em grego “aer”).
Héstia é a
deusa grega do lar e dos laços familiares, simbolizada pelo fogo doméstico. É
em torno da fogueira que se junta a família, e por isso o fogo do lar é símbolo
da união da família.
– Héstia (o fogo doméstico) – por
certo o nome tem relação próxima com o “išt” ugarítico, que significa
precisamente “fogo”.
Deméter é a
deusa grega da destruição, mas também da agricultura, da terra cultivada, das
colheitas, das estações do ano, e em particular do trigo. Hoje pode parecer
algo contraditório a mesma deusa propiciar a destruição e as colheitas, mas
para a compreender convém relacioná-la com os ciclos da natureza e das
sementeiras: estações do ano, a sementeira (“morte” da semente no interior da
terra e o seu renascimento) e as colheitas. Parece ter relação com a “Inanna”
suméria, que originou a “Ishtar” acádia, assíria e babilónica.
– Deméter ou Demetra (mãe da destruição e da
agricultura) – do acádio “damtu”, destruição.
Hedone é um
“daemon” feminino (uma divindade grega do tipo “génio”), filha de Eros e Psique,
que se relaciona com o desejo sexual e com o prazer. O nome latino equivalente é
“dæmon”, que veio a dar origem ao “demónio” português. A evolução do
significado do nome – de “deusa do desejo e prazer” para “demónio”, fonte de
todos os males – corresponde à diabolização da própria sexualidade que acabou
por ocorrer na Igreja Católica.
– Hedone (desejo, prazer) – o termo
“Ødnh”
[edêne] em hebraico antigo significa precisamente “prazer, desejo”. A palavra
próxima “Ødn”, em hebraico antigo significa “viver em delícias, regalias”,
veio a dar o nosso “eden” (o paraíso).
Selene é a
lua, mas também a deusa do amanhecer. É a deusa da luz que combate a escuridão
da noite. Tem como equivalente romana a deusa “Luna”.
– Selene (lua) – de “ṣhl” que em hebraico antigo
e ugarítico significa “resplandecer, fazer brilhar” (tal como o “sélas” grego).
Talvez que também de “lin” (hebraico antigo) ou “ln” (ugarítico) que significa “passar
a noite, pernoitar”. Portanto “ṣhllin” – “resplandecer da noite”.
Apolo era filho
de Zeus e Leto, e irmão gémeo de Ártemis. Parece que era conhecido na Grécia
como Apollon, e para os romanos era Apollo. Entre os etruscos era conhecido por
Apulu ou Aplu.
– Apolo (o mais influente dos
filhos de Zeus) – Certamente com relação próxima ao acádio “aplu”, com o
significado de “filho herdeiro”, ou do assírio “aplu” com o significado de
“filho”.
Afrodite é a
deusa do amor, beleza e sexualidade. É a equivalente grega à deusa Venus
romana. Por vezes associa-se indevidamente a origem do nome a “aphros”, que significa
"espuma", traduzindo-o como "erguida da espuma".
– Afrodite (deusa do amor, da
beleza e sexualidade) – provável relação com “iôpi”, “iØp” ou “iØph”,
“iph” (em todos os casos o “p” pode ser lido “f”), termos que significam
“beleza, resplendor, mostrar-se radiante, tornar-se belo”. Também existe a
possibilidade de o final da palavra, o “dite” provir de “dd”, que em ugarítico
significa “amor, amado, amante”, mas também “seios” (na forma assíria é “did” e
na hebraica “dd”). Por outro lado “Ørih” é “nudez, estar nua”. Assim pode
admitir-se a forma composta “iphØrihdid” com o significado de “amante bela
nua”. Parece-me apenas possível. Mas ainda assim será uma hipótese de trabalho
mais interessante que a usualmente referida “aphros” (espuma).
"Hedone é um “daemon” feminino (uma divindade grega do tipo “génio”), filha de Eros e Psique, que se relaciona com o desejo sexual e com o prazer." Ora outra palavra que me parece daqui derivar é «hedonismo», tão em voga nos últimos tempos e que é o amor "quase" sexual pelo seu corpo e pelo prazer que ele pode proporcionar e em consequência pela imagem que de nós projetamos o que vem a dar origem a toda a panóplia de produtos de consumo que apregoam melhorar a saúde, recuperar a beleza e tornar-nos mais jovens....
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