A “BOLA” E O “BAAL”
Quando uma das detidas do Estabelecimento Prisional de
Odemira sai em liberdade, as demais gritam "bola! bola! bola!
bola!!", num frenesim ensurdecedor.
No entanto, parece que já ninguém sabe por que motivo o fazem. É
interessante perceber que a explicação para este fenómeno curioso se prende com
o uso da nossa antiga língua de origem fenícia, que num ambiente fechado como é
uma prisão sobreviveu até hoje.
De facto este "bola" que as prisioneiras gritam
incessantemente quando uma delas é liberta deve provir do termo fenício
"baal", que se referia por certo ao "senhor" (juiz, ou
qualquer outro tipo de figura que decidia sobre a liberdade dos prisioneiros).
Havia libertação de alguém quando o "senhor" (o baal) ia à prisão,
portanto os detidos gritavam "baal! baal! baal! baal!", pedindo ao
senhor que olhasse pela sua situação e tentando assim não ficar esquecido a
apodrecer na prisão.
Claro que o procedimento senhorial do velho "baal"
foi sendo substituído progressivamente por instituições mais modernas, e hoje já
não adianta gritar por ele para conseguir a libertação. No entanto o hábito
ficou e, muito embora já ninguém saiba porquê, todas gritam "bola! bola!
bola! bola!" quando uma de entre elas sai em liberdade.
Outras palavras de origem fenícia relacionadas com prisões sobreviveram até nós. É o caso, entre outras, de "calabouço" (prisão infecta), "chui" (polícia), "chibo" (delator), etc.