O texto
que se segue corresponde a uma revisão ampliada de uma fração do livro “A
Origem da Língua Portuguesa”. Será por certo o bastante para demonstrar a
ligação óbvia entre a língua portuguesa e as línguas antigas do próximo
oriente.
A
O artigo definido feminino singular do
português “a” provém certamente do “h” [â] fenício, que é precisamente o artigo
definido tanto em ugarítico como em hebraico antigo. É habitual afirmar que os
nossos artigos tiveram origem no “illa” latino, mas não parece que essa
possibilidade seja razoável. De resto, como é sabido, o latim não tem
“artigos”, e também por isso é natural que os nossos artigos tenham uma outra
origem. Do “ille”, que é um pronome latino que significa “ele”, “ela” virá o
nosso “ele” e “ela”, mas certamente não o artigo “a”. Contudo, este “h”, que em
hebraico antigo e ugarítico era o artigo definido para os dois géneros e
números, acabou por se desdobrar nas quatro formas de artigo que usamos hoje em
português, seguindo as normas gerais das terminações para os diferentes números
e géneros.
ABA
Diz-se vulgarmente que a nossa palavra “aba”
provém de “alapa”, termo latino que significa “bofetada leve dada para libertar
um escravo (fazia parte do ritual da cerimónia da libertação dos escravos dar o
senhor uma pequena bofetada, sinal de liberdade)”. Machado, J. P. pensa que
terá uma “origem obscura”, mas não descarta de todo a hipótese “alapa”, com o
significado de “palma da mão”, ou eventualmente ter origem em “asa”, mas
sujeita a várias e complexas alterações fonéticas. De facto a nossa palavra
“aba”, enquanto prolongamento de um telhado, proteção, parte do chapéu, etc.,
deve provir, não do latim, mas antes do fenício, já que o termo fenício øb
[aba], significa “palio, alpendre”, ou seja “cobertura”, seja ela de pano ou de
materiais rígidos, (e daí também em português se aplicar ainda hoje tanto a
tecidos, “aba do casaco”, por exemplo, como a estruturas rígidas, “aba do
telhado”)[1].
Existem formas, fonética e semanticamente próximas: øwb [aôbe] significa
“obscurecer”, e “øwp” [aôpe] é “cobrir com trevas, desaparecer”, o que é
basicamente o mesmo.
ABACELAR
Ainda hoje “abacelar” uma planta, seja ela
qual for, é cobrir com terra para que se não seque e se possa vir a dispor mais
tarde. Já assim o entendia D. Raphael Bluteau em 1712[2],
dizendo: “ABACELLAR uma planta. He
cobrirlhe com terra as raízes, para se dispor a seu tempo”. A palavra é
claramente popular e rural, e quando assim acontece quase sempre a sua origem
está na língua popular fenícia e não na língua urbana e erudita de origem
latina. Os radicais fenícios “Øb”, “Øwb” e Øwp” estão na origem de muitas
palavras do português correspondem à ideia geral de “cobrir, obscurecer” e
evoluíram geralmente para o som “ab” (veja-se por exemplo “aba”). Também em
fenício a sequência “ṣel” corresponde a “sombra, proteção”. Assim, “abacelar”
deve ter nascido de “Øwbṣel” [abassel] com o significado de “cobrir para
proteção”. Parece assim de abandonar a ideia de que a palavra “abacelar” teria
nascido de “bacelo”, e esta do termo latino “bácullu”.
ABADA (levar uma)
“Levar uma abada” é, por exemplo, perder por
uma grande diferença num jogo, e de algum modo ser humilhado pela situação. A
origem da palavra ada tem que ver com membros da igreja (abade). Deriva antes
do conceito genérico de “perecer, desanimar, ruína”, que é em hebraico antigo e
ugarítico “abd” [abade]. Esta ideia geral teve em ugarítico a grafia “hbț” com
o significado de “humilhar, abater”.
ABADE
É facto que o termo latino “abba” significa
“abade, ou chefe de una comunidade religiosa”. No entanto o termo fenício “apd”
[abade] significa precisamente “veste sacerdotal” ou “veste cultual”. Este
“apd” fenício, que por certo é muito mais antigo que o termo latino, deve ter
convergido com o ermo latino paradar origem ao nosso “abade”.
ABADEJO
A “vaca loura” também é conhecida por
“abadejo”. É um inseto negro que quando incomodade expele uma gota de um
líquido amarelo (ver “vaca loura”). O nome “abadejo” deve provir de “Øôpadš”
que significa em fenício “inseto das debulhas”. De facto é pelo tempo do final
da primavera e princípio do verão que este inseto se torna partivularmente visível,
e daí o nome.
ABAFAR
A palavra “abafar” pode ter significados
diferentes, muito embora relacionados. Pode significar “cobrir com roupa”, com
“abafos”; pode significar “impedir a respiração” (cobrir a boca); pode querer
dizer “furtar”, “fazer desaparecer” (de algum modo “ocultar”, portanto “fazer
desaparecer”). Usualmente afirma-se que a palavra “abafar” tem origem em
“bafo”, e que esta palavra é de origem onomatopaica. As palavras “øb” [aba],
“øwb” [aôba], ou “øwp” [aôba] têm em fenício relação direta com a ideia de
“cobrir” e “fazer desaparecer” (ver “aba”). Por outro lado “azh” [azâ] é
“aquecer” e “øz” [âza] é proteção. Parece portanto possível que quando se usa a
palavra “abafo” no sentido de “roupa quente” a origem possa ser “øbazh”
[abazâ], com o significado de “cobrir para proteger”, ou “cobrir para aquecer”.
No entanto, a ser assim, teria que se admitir que o “z” fenício passaria a “f”
português, o que não parece ser comum. Quanto aos restantes sentidos em que se
usa a palavra “abafar” (roubar, e asfixiar) podem resultar da ideia original de
“fazer desaparecer” e “cobrir”.
ABAFAR
Usado no séc. XVIII no sentido de “cobrir de
nuvens, escurecer”. Em Raphael Bluteau encontra-se a frase “(…)Vaise o ceo
abafando” usada precisamente nesse sentido de “obscurecendo com nuvens. A
palavra deve er origem em “Øwb”, termo fenício que significa precisamente
“obscurecer, cobrir de nuvens”.
ABAIXO
Ver “baixo”.
ABALAR (ir, vir)
O nosso verbo “abalar” provém de abalu [abale]
ou de wabâlu [âabâle], que significa em assírio “trazer, levar, carregar”.
Também em acádio existe um termo próximo, “abalu” [abale], que significa
“trazer, levar”, enquanto em hebraico antigo o termo equivalente é “ibl”
[abale] quer dizer “trazer ou ser trazido”. Usualmente afirma-se que o verbo
“abalar” teria tido origem numa hipotética palavra latina “advallare”.
Evidentemente que essa hipotética palavra “advallare”, que significaria num
latim hipotético “lançar-se no vale, ao fundo”, não tem o menor sentido. Parece
claro que o nosso verbo “abalar” tem origem nas formas fenícias “wabalu”,
“abalu” ou “ibl”, que lhe correspondem perfeitamente tanto na fonética como no
significado.
ABALAR (estar comovido, sensibilizado)
A palavra, quando usada no sentido de “estar
enfraquecido, estar impressionado, estar comovido”, deve ter origem em “abl”
[abala] que significa em fenício “lamentar, estar de luto, ritual fúnebre”. A
raiz desta palavra deve ser comum a “abulia” (ver), termo que chega a nós por
via erudita a partir do grego (de “abaulikós” – “o que tem falta de vontade”),
mas que partilha com as línguas semitas antigas do grupo Noroeste a mesma raiz.
ABANAR
Dizem os dicionários que o nosso verbo
“abanar” tem origem numa hipotética palavra latina “vannare”, através de uma
outra palavra latina hipotética “evannare”, ou “advannare”, que significaria
“cirandar, passar pelo crivo”. Repare-se que na origem das palavras
tradicionalmente aceite se sucedem as palavras hipotéticas, o que não dá
crédito às possibilidades de etimologias sugeridas. No entanto existe uma
possível relação entre o nosso “abanar” com “vannere” e “evannere”, palavras
latinas que significam “joeirar” (joeirar implica “abanar”). Existe em fenício
a palavra “øwp” [aôba] que significa “vibrar”, e “nwø” [nôâ] é “oscilar, mexer,
estremecer”. Portanto “abanar” tem por certo origem em “øwpnwø” [aôbanôâ] é
“mexer vibrando”, ou “estremecer o que vibra”, etc. Repare-se que há certamente
uma raiz comum entre o “øwpnwø” [aôbanôâ] fenício e o “evannere” latino.
ABANCAR
Ver “banco”.
ABANDONAR
O nosso verbo “abandonar” deve provir do
radical fenício “abd”, que genericamente corresponde à nossa ideia de “estar
perdido”: em ugarítico “abd” significa “perder-se, sentir-se perdido”, e em
hebraico antigo é “perder-se, vagar, errar, desanimar, etc. No caso desta
palavra ocorreu uma nasalação em que o “abado” das línguas do oriente passou a
“abando” no ocidente: em castelhano “abandonar”; em francês “abandonner”; em
inglês “abandon”; em provençal “abandouna”, etc.
ABANO
Ver “abanar”
ABARROTAR
A evolução de alguns termos de origem remota é
por vezes difícil de determinar porque a sua fonética se modificou com a
passagem dos milénios, ou porque o significado inicial das palavras evoluiu.
Este último é por certo o caso da nossa palavra “abarrotar”. Raphael Bluteau,
no seu “Vocabulário Portuguez e Latino”, é explícito quanto ao significado que
a palavra tinha no final do séc. XVII e princípio do séc. XVIII. Diz ele:
“ABARROTADO, navio.Aquelle que està carregado atè as escutilhas, e tão cheio que
não pode leva mais carga”. É portanto de admitir que o conceito tenha nascido
da ideia de “ser muito pesado”, e que possa ter relação com a coisa mais pesada
que se conhecia, e que era o chumbo. A palavra chumbo em acádio diz-se “abaru”,
mas em hebraico antigo é “Øprt” [ôpèrèt][3], e
pode ser esta ideia base que está na origem da palavra. Inicialmente o navio
abarrotado terá sido o que carregava algo pesado (como chumbo), mais tarde
simplesmente o que ia com a carga completa, e ainda depois o conceito passou a
aplicar-se a tudo o que esteja muito cheio.
ABASTADO
Possivelmente relacionado com a raiz “bušu”
(acádio e assíro) que significa “tesouro, posses, haveres, bens”, e com “êdu”
que é “particular, notável, conhecido”. Pode contudo ter relação com “baštu”
que significa “vigor; força vital”, e que deu origem à nossa noção de “basto”
no sentido de “denso, abundante”. Pode por isso este “basto” ter dado origem a
várias palavras próximas como seja “bastar” (“ser suficiente”, ou melhor, “ser
suficientemente abundante”), “abastecer” (ver), etc.
ABASTECER
Tal como em “abastado” (ver) pode haver uma
relação com o termo fenício “baštu” que significa “vigor; força vital”, e que
deu origem à nossa noção de “basto” no sentido de “denso, abundante”. A
possibilidade geralmente aceite de a nossa palavra “abastecer” ter nascido de
uma hipotética palavra latina “baštu”, que se alguma vez tivesse existido
poderia ter significado “tapado, cheio”, não parece ser de aceitar. Raphael
Bluteau refere a existência da palavra “bastecer” com o significado atual de
“abastecer”, pelo que a hipótese de a origem da palavra (e de outras palavras
próximas) se encontrar no fenício “baštu” parece consistente.
ABATER
O verbo “abater” é um caso curioso de uma
palavra de origem fenícia que passa com facilidade por ter uma origem latina. De
resto deve ter existido, neste e em muitos outros casos, um fenómeno a que
poderemos chamar “convergência” entre palavras de origem fenícia e latina na
formação do português. Por um lado existe o termo latino “battuere”, que
significa “bater, ferir” (e que evidentemente está na origem do nosso verbo
“bater”), mas existe em fenício o termo “hbţ” [âbate], que significa “humilhar,
abater”, e que evidentemente é a origem direta do nosso “abater”. A potencial
confluência semântica e fonética é evidente, já que se pode facilmente
encontrar uma relação entre o ato de bater (ou de ser batido) e o estado de
abatimento, e que do ponto de vista fonético a semelhança entre os dois
radicais é evidente. No entanto, mesmo no sentido físico, o nosso “abater” deve
ter relação com as línguas antigas do Médio Oriente, já que “abatu” em acádio e
assírio também significa “destruir, devastar”.
ABÉBIA
A nossa palavra “abébia”, que significa “ter
uma facilidade”, “conseguir algo gratuitamente”, etc. deve ser de origem
fenícia como quase sempre acontece com as palavras usadas na linguagem popular
e mais informal. O radical hebraico antigo “abh” [abe] significa “aceitar,
estar disposto a, concordar em”. Por outro lado o termo “øbr” [âber] significa
na mesma língua “oferendar, perdoar”, e em ugarítico “perdoar, convidar”. Deste
modo, “abhøbr” [abeâbear] será algo como “estar disposto a convidar”,
“concordar em perdoar”, “aceitar convidar”, etc. A única dificuldade que surge
nesta interpretação corresponde à perda do “r” final, o que, embora não seja
improvável, parece não ser muito usual.
ABELAR
(Ver “avelar”)
ABESPINHAR
A nossa palavra “abespinhar” deve ser de
origem fenícia e provir de “apøzpn” [abêzepene], que significa “semblante de
face violenta” ou de “apzøppn” [abezêppene], que quer dizer “semblante de face
furiosa”. Evidentemente que a hipótese habitualmente aceite de o verbo
“abespinhar” ter alguma relação com “vespa” não parece ter sentido.
ABÓBADA
Os dicionários usualmente referem que a
palavra “abóbada” teve origem numa hipotética forma latina “volvita”, part.
pass. fem. pop. de “volvere”, que significa em latim “voltar; revirar”.
Evidentemente que esta possibilidade é pouco verosímil, e em fenício pode ser
encontrada uma possível raiz bem mais aceitável. A forma “øwb” significa em
fenício “obscurecer, cobrir com nuvens”; a forma “øwp” é “estar escuro, cobrir
com trevas”; “øb” é “alpendre, baldaquino”. Por outro lado “bt” (ou “bitu”) é
“casa, palácio, templo, sala”. Assim, “øwbbt” [âobabete] será “cobertura da
casa”, “cobertura do palácio”, etc.
ABOBADILHA
A raiz da palavra é evidentemente “abóbada”,
mas o seu final deve corresponder a “dl”, que significa “fraco”. Assim
“abobadilha” é uma “abóbada fraca”
ABRIGO
A palavra “abrigo” parece ser um caso muito
interessante de evolução convergente entre um termo latino e um outro fenício.
Em latim “apricari” que significa “aquecer-se ao sol”; em fenício “briḥ”
[brigâ] é “ferrolho, tranca, muralha”. Assim se dizemos que um local é
“abrigado” porque “é soalheiro, não ventoso, etc.”, a origem da palavra será
latina, mas se dizemos, por exemplo, que “alguém procurou abrigo numa esquadra
de polícia”, a origem desta palavra é fenícia com certeza. No entanto há uma
clara convergência na ideia geral de “proteção” (do frio, num caso, em busca de
segurança nos outros).
ABROLHO
“Abrolho” é “espinho; espécie de pua; rebento,
gomo; planta prostrada que produz frutos espinhosos e é espontânea em
Portugal”. Dizem os dicionários comuns, seguindo entre outros Machado, J. P.,
que a palavra “abrolho” provém do latim “aperi oculos”, que significa “abre os
olhos”, mas mesmo numa observação superficial se notará que é uma relação
improvável e forçada. A origem da palavra é obviamente outra. Em fenício,
“abaru” [abare] é “gancho”, e “ølh” [ôlê] é “folhas, folhagem”. O nosso
“abrolho” deve provir assim de “abaruølh” [abareôle] com o significado de
“folhagem espinhosa”. A questão contudo é um pouco mais complexa, porque este
“abaru” que efetivamente significa “gancho”, está muito próximo de vários outros
termos que significam “seara, ceifa” (“aburu”, “eberu”, “eburu”), podendo haver
uma qualquer relação não compreendida entre as searas e os “abrolhos”.
ABULIA
Diz-se “abulia”, que provém do grego
“aboulia”, que significa “irreflexão”, mas terá relação com outro termo grego
“abaulikós” que significa “o que tem falta de vontade”. É possível que seja
essa a verdadeira origem da palavra no português, visto que a “abulia” é uma
palavra erudita que não se usa entre as populações rurais. Deve contudo
observar-se que é pouco provável qualquer influência direta do grego sobre o
português. Por outro lado “abl” é, em fenício “observar ritos fúnebres, luto,
enlutado”, o que corresponde à atitude abúlica, ou seja, à ausência de vontade
e ação. Como em muitos outros casos deve haver um radical antigo e comum a
muitas línguas antigas do Mediterrâneo, sendo por isso difícil dizer por que
via chega até nós.
ABUTRE
A palavra “abutre” é geralmente dada como
sendo proveniente de “vulture”, que em latim significa precisamente “abutre”.
Esta hipótese até seria aceitável, se não existisse em fenício uma outra mais
credível: “øbt’r” [âbetôr] é literalmente “ave que descreve círculos”, ou “ave
que dá voltas”. Note-se como também a forma latina “vultur”, ou “voltur” é
próxima da forma latina “voluto”, que genericamente significa “rolar” “dar
voltas”. Ser “a ave que dá voltas”, foi certamente essa característica dos
abutres que lhes deu o nome nas duas línguas.
ACABAR
O verbo “acabar” é um caso muito interessante.
Tem origem na palavra fenícia “øqb”[4]
[âqaba], que significa “chegar ao fim; parte final; até ao fim”, e a partir
dela se constrói o verbo regular que conhecemos, o verbo “acabar”. Será quase
desnecessário dizer que se entende como sem fundamento nem razão de ser a
etimologia geralmente aceite que assenta num hipotética palavra latina
“accapare”, palavra essa que nunca existiu. O interesse desta e de outras
situações semelhantes está sobretudo em perceber como se forma um verbo regular
em português a partir da palavra fenícia, portanto como se aplica a estrutura
gramatical do português à palavra fenícia.
ACADAR
Diz-se que a palavra “acadar” (que significa
“agarrar, alcançar”) provém de um hipotético termo latino “accapitare” que
significaria “receber, segurar”. Contudo este termo, que hoje praticamente não
se usa, provém certamente de “øqd” [âqada], que em fenício significa “amarrar”,
e é por certo esta a origem da palavra “acadar”.
AÇAFÕES
Ver “safões”
AÇAFATE
A palavra “açafate” pode provir de “aspath”
[asefatê], que significa em fenício “trazer a colheita”, e resulta da junção de
dois radicais: “asp” [asefe], que significa colher, colheita, reunir, recolher,
etc., e “ath” [atê] que é “vir, trazer”. A etimologia proposta habitualmente
para esta palavra relaciona-a com a palavra árabe “as-safat” é potencialmente
convergente com a fenícia.
ACABRUNHADO
Tal como “acanhado” (repare-se que acabrunhado
é “aca+bru+nhado) a palavra contém os radicais “aku” [ake] significa em fenício
“infeliz, indigente, fraco” (“órfão” em assírio e acádio é “eku”), e “ndh”
[nadê] é “excluir, afugentar”. Além destes radicais tem ainda a sílaba “bru”
que deve provir de “Øbrh”, que significa “emoção, arrogância”. Assim estar
“acabrunhado é estar “excluído e de emoção infeliz”. É evidente que a palavra
latina hipotética “caproneare” não faz qualquer sentido.
ACAGULADO
Ou “acugulado”. Ver “cagulo”.
AÇAIME
A palavra “açaime” (também escrita como
“açamo” e “açaimo”) é um aparelho geralmente de couro que serve para impedir os
cães de abrir a boca. Alguns dicionários aceitam tratar-se de uma palavra de
“origem obscura, enquanto outros tentam encontrar a origem da palavra no “árabe
vulgar”. De facto a palavra tem certamente a mesma origem que a maioria das
outras palavras do português, ou seja, radica na língua pré-romana do povo a
que vimos chamando de “fenício”. De facto em fenício “ḥsm” significa “atar,
fechar”, e “Øṣm” significa igualmente “fechar”. Não parece haver dúvidas que é
neste “atar” ou “fechar” que está a origem do nosso “açaime”, e não em qualquer
outra palavra desconhecida ou inventada.
ACANHADO
A palavra “aku” [ake] significa em fenício
“infeliz, indigente, fraco” (órfão em assírio, “eku” é também “órfão” em
acádio), e “ndh” [nadê] é “excluir, afugentar”. Portanto, “acanhado” provém de
“akundh” [akenadê] e refere-se ao “fraco excluído”, ou a um “órfão excluído”.
Claro que a explicação apresentada habitualmente para a origem da palavra
“acanhar” – “a + canho + ar” não faz sentido, para além de cometer o erro
habitual de admitir que o infinito do verbo - “acanhar” - precede o adjetivo
“acanhado”, o que evidentemente não é verdade. Como em tantos outros casos a
formação do verbo regular do português, bem como de outras palavras derivadas,
resulta de um termo fenício após ser sujeito à aplicação de normas gramaticais
gerais do português.
ACATAR
“Acatar” é “obedecer”, é “cumprir ordens ou
recomendações de alguém”… A palavra implica uma relação de autoridade, em que
quem “acata” se submete ao poder de outrem. Tal como em “acanhado”, a raiz
fenícia “acu” significa “ser fraco, ser indigente, ser infeliz” (também
“órfão”). Entre nós parece claro que pelo menos em certa época serviu para
referir pessoas de baixo estatuto social, ou melhor, o seu aspeto e postura na
sociedade (“acatar”, “acabrunhado”, “acanhado”). A nossa palavra “acatar” deve
deste modo provir de “akuaț”, em que “aku” se aplica como se viu a quem está
numa posição inferior e em que o radical “aț” significa “brandura, mansidão,
afabilidade”. Assim, pode dizer-se que o que acata está na condição se “ser
fraco e brando”, “ser fraco e afável”, etc. Evidentemente que a origem
geralmente proposta para esta palavra, uma hipotética palavra “accaptare”, que
significaria “procurar, obter”, não faz qualquer sentido.
ACEIFA
Ver “ceifa”.
ACAREAR
A palavra “acarear” significa genericamente
“promover o encontro, juntar”, quer se trate de “acarear” coisas para levar
para casa, quer se trate de “pôr em presença testemunhas para que ajustem os
seus depoimentos”. Por exemplo, um dicionário propõe um “a+cara+ear”, o que,
sem que os seus autores saibam, quase está de acordo com o que parece ser mais
aceitável: “a+qrh+ar”. “Qrh” [carê] é uma palavra que existe no fenício e que
significa “encontrar” (“qhrh” [cârâ] ou “qrh” é também “encontrar”, “deixar-se
ver” e “cara”); “qri” significa “encontro”, e “qry” é “encontrar-se com”.
ACEIRO
A origem da nossa palavra “aceiro”, usada no
sentido de “terreno limpo em volta de uma propriedade para a proteger dos
incêndios”, não tem qualquer relação com “aço”, nem com a eventual raiz latina
desta palavra. Deve pelo contrário provir do termo fenício “ḥṣr” que significa
“área cercada”. É interessante aqui verificar que o som aspirado que existia no
início da palavra nas línguas do oriente simplesmente desapareceu dndo origem
ao nosso som “a”.
ACEPIPE
Diz-se que a palavra “acepipe” provém do árabe
“az-zabib”, que significa “passa de uva”. No entanto há igualmente a
possibilidade de a origem da palavra ser “asp” [asepe] que significa “colheita”,
e de “iph” [ipê], que significa “bonita, tornar-se bela”. Portanto “aspiph”
[asepeipê] é “bela colheita”.
ACHA
Admite-se geralmente que a palavra “acha”
provenha do termo latino “astula” ou “assula”, que teria evoluído para “astla”
ou “ascla” de onde finalmente se teria convertido na nossa “acha”. No entanto
em fenício “øṣ” [ache] ou “øṣh” [âchê] significa “cepa, madeira, haste”. Por
outro lado “azh” [azê], que é “acender, atear (fogo), aquecer”, ou “aš” [ache],
significa “fogo, pouco, insignificância”[5]. Há
certamente uma relação entre todos estes termos que ainda se encontra na
palavra “acha” do português – tal como hoje, a palavra devia referir-se a
“madeira”, mas apenas a “madeira para queimar”, e não a madeira destinada a
outros fins. Em qualquer dos casos parece mais verosímil a hipótese da origem
fenícia para esta palavra, que da origem latina.
ACHADA
Uma “achada” é um retalho de terra aplanada
numa região de declives fortes. Dizem os dicionários usados habitualmente que o
termo provém de uma forma hipotética do latim “aplanata-”, por “applanata-”,
particípio passado feminino de “applanare”, “aplanar”. Face a uma tão complexa
construção teórica, o leitor fica esmagado com a pretensa sabedoria que ela
implica, e não pode senão admitir como correta esta análise. No entanto… quem
pegue num dicionário de fenício verá sem dificuldade que “ašd” [achade] é
“encosta, vertente, declive de montanha”… É bom de ver que a tal “aplanata”,
que nunca existiu, não passa de uma construção imaginada por quem também pensa
que a nossa palavra “chão” provém de “planu-”, quando efetivamente provém do
termo fenício “šwh” [chââ].
ACHAR
Dizem alguns dicionários que a palavra “achar”
provém da palavra latina “afflare”, por “adflare”, que significa, ao que dizem,
“farejar, encontrar”. Em fenício “ašr” [achare] significa “rasto, pegada, atrás
de”, e é uma hipótese interessante para a origem da nossa palavra “achar”,
tomada nesse mesmo sentido. Já quando usamos a palavra “achar” no sentido de
“exprimir a opinião”, a origem será também fenícia, mas residirá no termo “øs”
[ache], que quer dizer “exprimir”.
ACHAQUE
A palavra “achaque” não deve provir do árabe
“ax-xaqq” com o significado de “dúvida, suspeita”, mas antes de “asakku”
[achake], termo fenício (no caso assírio) com o significado de “doença”. De
facto “achaque” é uma doença súbita, e não uma “dúvida” ou uma “suspeita”.
ACHATAR
A palavra “achatar” tem origem em “øšt”
[âchate], que significa “lâmina, chapa, ser liso”. Aceita-se tradicionalmente
que a origem da palavra “chato” esteja no termo grego “platýs” (largo, amplo),
pelo latim “plattu-” (plano), formas que efetivamente não devem ser
consideradas para perceber a origem do nosso verbo “achatar” e das palavras com
ele relacionadas.
ACHEGA
Não é fácil aceitar que “achegar” provenha do
“applicare” latino, termo que deu origem ao nosso verbo “aplicar”. No entanto a
verdadeira origem da palavra será por certo “ašsg’” [acheseg], que significa
“crescer um pouco”.
ACHINCALHAR
A palavra “achincalhar” e as da mesma família
devem provir de “øšq all” [âcheqalle], que significa “oprimir o
insignificante”. Ao contrário que geralmente se propõe nos dicionários, não
deve provir de um jogo popular, o “chinquilho”, que nada tem que ver com a
ideia de “achincalhar”.
ACICATAR
Diz-se que a palavra “acicatar” provém do
árabe “as-siqqat”, que significa (pontapé, ponta de ferro), no entanto em
fenício “sikkatu” [sikate] também é “ponta, cavilha, flecha, faca”, e
“azsikkatu” [azsikate] (“az” significa “constranger, apressar-se, ter pressa”)
será “apressar ou constranger com a ponta”, ou como se dirá também hoje,
“picar”. No fundo, tanto do ponto de vista fonético como do ponto de vista
semântico é possível encontrar a origem da nossa palavra “acicatar” tanto no
árabe como no fenício.
ACIMA
A nossa palavra “acima” corresponde a anexação
do atrigo fenício “a” à palavra “cima”, que por sua vez provém do termo “kima”,
que significa precisamente “cimo” (ver “cimo”).
AÇO
Possivelmente o termo tem origem em “øz”
[âze], que em fenício significa “forte, duro”, e não em “aceiro”, que seria
palavra resultante do “aciariu-” do “latim tardio”, conforme se pretende em
alguns dicionários. Poderá no entanto provir de um outro termo latino, “acies”
que, esse sim tem relação direta com objetos cortantes e aguçados. Raphael
Bluteau refere expressões em uso nos séculos XVII e XVIII que reforçam a
hipótese de a palavra “aço” ser de origem fenícia e significar “forte, duro”:
“dar aço ao ferro”; “dar aço a lamina huma espada”. Estamos neste caso (como em
muitos outros) confrontados com a possibilidade da convergência entre termos
das duas línguas, termos esses que podem ter originado a palavra portuguesa
atual.
AÇODAR
“Açodar” significa “apressar”, e entende-se
facilmente que provenha de “az dhr” [azedâre], porque esta expressão significa
em fenício “apressar-se a correr”. A origem onomatopeica proposta em alguns
dicionários é até difícil de compreender.
AÇOITE
É possível que haja uma convergência entre os
termos fenício e árabe para a formação da palavra “açoite”. Em fenício “øz”
[âze] é “ser forte, violento, duro” e “šôt”[6]
[chôte] significa “açoite, chicote”, portanto “øzšôt” [âzechôte] será “chicote
violento”, ou algo equivalente. No entanto, em árabe existe a palavra “as-sót”,
que também significa “chicote”.
AÇOR
A palavra “øṣr” [âssere] é “ave, pássaro” em
fenício. A etimologia habitualmente aceite relaciona a palavra “açor” com a
palavra latina “acceptore”. No entanto é claramente mais provável a origem em
“øṣr” [âssere], já que a pronúncia é mais próxima da palavra portuguesa. No que
se refere ao arquipélago dos Açores, como é sabido, não há nem nunca houve nele
açores, no sentido moderno do termo. O que houve foram aves de rapina a que o
povo chama “milhafres” ou “queimados”, e que é uma variedade de Buteo buteo. É bastante provável que a
confusão de nomes tenha tido origem no facto de os marinheiros usarem ainda o
termo “açor” no sentido antigo e fenício, ou seja “aves”. Eram portanto as
“ilhas das aves”. O nome ficou, e com o tempo prevaleceu o significado urbano e
moderno do termo, ou seja “açor” como Accipiter
gentilis, que é espécie que efetivamente nunca existiu naquelas ilhas.
Situações como esta levam a crer que no século XV o povo ainda falava uma
língua com forte componente fenícia, muito embora os escritos feitos pelos
letrados urbanos e latinizados possam fazer crer o contrário.
AÇORADO
A palavra “açorado” significa “muito desejoso,
sôfrego, ávido”. Diz-se que tem origem no comportamento do açor, pois esta ave
persegue a presa com muito ímpeto. Como acontece com frequência, as deduções
que fazemos são fruto do conhecimento que temos, e esta dedução parece lógica
até se saber que “asr ød” [aserâde] é “tempo de abstinência”, ou melhor
“durante o tempo de abstinência”. Portanto o termo refere-se ao desejo intenso
que existe durante a abstinência, e não deve ter relação com os açores (exceto,
claro está, que os açores também são deixados com fome antes da caça…).
ACORDAR
A palavra “acordar”, usada no sentido de
“despertar”, não provém certamente da ideia de “estar de acordo”. Sendo assim,
a origem da palavra deverá ser distinta da que tem sido aceite. De facto, em
fenício, “ik øwr ødd” [ekôôrôde] significa “assim que / acordar / levantar-se”.
Portanto “ikøwrødd” evoluiu certamente para “akourd”, e daí para o nosso verbo
“acordar”. Habitualmente aceita-se que o nosso termo “acordar” no sentido de
“despertar” tenha a mesma origem de “acordar” no sentido de “estar de acordo”,
o que parece não ter sentido.
ACOSSAR
Acossar é “perseguir, dar caça”. O verbo
“acossar” deve ter nascido da palavra “acossado”, e esta das raízes fenícias
“aku”[7]
e “ṣadu”, que significam precisamente “caçar o que é fraco”. Parece claro que
as hipotéticas palavras latinas criadas para justificar a origem latina do
nosso “acossar” não são aceitáveis.
ACOSTAR
Ver “costa”.
ACUAR
“Acuar” é um term em desus. Significa
“empurrar para um canto”, “parar e não querer andar”, “desistir”, “esmorecer”,
“fazer parar”… Costuma dizer-se que a palavra provém de uma hipotética palavra
latina “acullare”, e esta, se alguma vez tivesse realmente existido, teria
nascido de “culu”, que significa “anus”. Parece contudo mais provável e lógica
a relação com o termo fenício “ḥk”, que significa “aguardar, esperar; vacilar”.
-ADA
O sufixo “ada”, ou “ado” é dado como sendo de
origem latina. Ele exprime fundamentalmente as ideias de “conjunto, quantidade
elevada, duração e ação”. Existem em fenício termos que se adequam
perfeitamente a estas significações, e que correspondem foneticamente ao sufixo
português “ada” ou “ado”. Por exemplo, “ødh” [âdâ] ou “ød” [âde] é “reunião,
junto a, em torno de”, e cada vez que dizemos palavras como “macacada”,
“feijoada”, “armada”, “vacada”, “papelada”, “latada”, etc., estamos certamente
a utilizar este termo fenício como sufixo. Também quando corresponde à ideia de
“duração, tempo durante o qual”, deve provir de “ød” [âde], com o significado
de “quando, enquanto, tempo”.
ADAGA
Dizem alguns dicionários que a palavra “adaga”
provém de um hipotético termo latino “daca”, que significaria “punhal”. Mas,
trata-se mais uma vez de uma palavra hipotética cuja existência nunca foi
verificada. Raphael Bluteau refere uma possível origem germânica (daguen), com
contaminação para o francês (daque) e para o italiano (daga). Curiosamente a
origem da palavra será foneticamente semelhante a esta proposta, só que o
significado e a língua de origem são outros. A nossa palavra “adaga” deve
provir de “ødi” [âdi], que quer dizer “ornamento, enfeite”, e “daku” [dake], que
significa “matar, destruir, submeter”, ou de “dk” [dake], que é “nobre”[8].
Assim, “adaga” provirá da expressão “ødi dk” [âdidake] que será “ornamento de
nobre”, ou de “addake” que será “ornamento de matar”.
ADÃO
Tal foi a vontade de encontrar uma origem latina
para todas as palavras do português, que mesmo a palavra “Adão” (que como todos
sabemos é um nome hebraico referido pelo Antigo Testamento como sendo o nome do
primeiro homem), que mesmo esse nome é dado como sendo de origem latina! “Adão”
seria assim proveniente de “Adamus”. Diz nomeadamente J. P. Machado que “a
hipótese mais plausível liga-o ao assírio “adamu”, “fazer, produzir”; desta
maneira o Homem é uma criatura, um ser “feito, produzido”. Claro está que a
origem da palavra “Adão” não é esta, mas por este exemplo se vê o profundo
desconhecimento das línguas antigas do Próximo Oriente. Em relação a este nome
farei uma análise um pouco mais detalhada que o habitual. Vejamos então de onde
poderá vir a palavra “Adão”:
“Adm” em ugarítico significa “homem,
humanidade, gente”;
“Adm” em hebraico antigo significa
“humanidade, ser homem”;
“Admh” em hebraico antigo é “Terra (planeta),
terra (chão, território, etc.);
“Adn” em ugarítico é “senhor, pai”;
“edenu” em acádio e assírio é “pessoa só”;
“Adôn” em hebraico antigo é “senhor, dono,
patrão”;
“Adôni” em hebraico antigo é “meu senhor,
Senhor (Deus);
“ødn” (âdan) em hebraico antigo é “viver em
delícias”;
“ødnh” (âdanâ) em hebraico antigo é “desejo,
prazer”.
Se se atentar com alguma profundidade sobre os
significados das palavras foneticamente próximas de “Adão” veremos que elas têm
significados que correspondem às características principais do “Adão” bíblico:
o “Homem”; a “Terra”; “Deus”; “viver em delícias” (o éden, o paraíso); “pessoa
só”; “desejo, prazer” (a tentação da carne e a saída do paraíso). Além disso,
se pensarmos em formas compostas, como “ad om” termos como significado “pai do
povo”, “pai da população”, ou “pai da gente”. Torna-se clara a origem do “Adão”
bíblico (o pai da humanidade, feito por Deus, a quem foi dada a Terra, que
viveu no paraíso, e que teve uns episódios importantes na sua vida ligados ao
desejo e prazer), e que nada tem de latino na sua origem.
ADIAFA
Uma “adiafa” é uma refeição que se organiza
para os trabalhadores no final de uma tarefa agrícola como as ceifas ou a
tiragem de cortiça. O termo pode provir da expressão fenícia “ød aph” [âdeafê],
que significa “reunião de assar” ou “reunião de cozer”, ou do árabe “ad-diafâ”,
que significa “banquete”. No fundo é o mesmo, e é provável que já existissem
“adiafas” antes do século VIII e que tenham continuado a existir até hoje.
ADRO
O “adro” das nossas igrejas tem certamente
origem em “adr” [ader] que é “cerca, cercado, árvore gigante, cedro” (muito
provavelmente o seu significado antigo já seria “cerca da árvore grande”), e
não em “atriu”, que significa em latim “sala de entrada”. Assim, devemos
separar o que tem andado junto por confusão: “adro”, que é um cercado com
árvores grandes, é fenício e provém de “adr”; “átrio”, que é uma câmara de
entrada de um edifício, é latim e tem origem em “atriu”. Os adros das nossas
igrejas são evidentemente cercados com árvores grandes (muitas vezes cedros ou
árvores da mesma família), e não qualquer tipo de átrio.
ADUBAR
A palavra “adubar”, para além do sentido atual
de “fertilizar a terra”, também pode significar “adornar, temperar e curtir”.
Pelo menos no sentido de “adornar” a palavra deve provir da raiz “ødh” [âdê] ou
“ødi” [âdi], que significa em fenício “enfeitar”, e de “br” [bare], que
significa “metal brilhante, eletro”. Assim, “ødhbr” [âdêbare]) será “enfeitar
de metal precioso”. A palavra “adubar”, no sentido de “fertilizar a terra” pode
ter uma origem algo diferente. Eventualmente poderá corresponder à ideia geral
de “enriquecer, acrescentar algo”, e ter sido usada em outras situações, como
seja “temperar” e “preparar”. Em abono desta hipótese está o facto de “ødb”
[âdebe] significar em fenício “preparar, fazer, pôr, deixar”, e de “ødbt” (forma
feminina de ødb), significar “distribuição, preparação; mobiliário,
manufaturas”. No “Elucidario” de Viterbo pode ler-se: “ADUBAR – Reparar,
compor, fortalecer, aproveitar, guarnecer terras, vinhas, casa, e quaesquer
outras propriedades ou edifícios. ‘Ficando
pera outras quadrelas o fazer e reparar outros lugres do castello, e adubar a
barbacã’”.[9]
O que certamente não aconteceu foi a nossa palavra “adubar” ter nascido de uma
hipotética palavra latina (addubare), originada de uma outra hipotética palavra
do “frâncico” (dubban), palavra essa que hipoteticamente significaria “bater”[10].
AFÃ
Diz-se que a palavra “afã” é de origem difícil
de determinar, mas que eventualmente poderá ter relação com o termo “afan” do
antigo provençal, com o significado de “pena, tormento, trabalho”. É curioso
observar que de facto o antigo provençal tem muitas palavras de raiz comum
àquelas portuguesas que derivam do fenício, pelo que é de supor que possa haver
uma influência fenícia nessa língua. No que toca à origem da palavra “afã” ela
deve ser “iøp” [iâfa] que significa “cansar, fatigar, estar exausto”, que é
exatamente o que significam as palavras equivalentes do português e do
provençal.
AFASTAR
Diz-se geralmente que “afastar” é uma palavra
de “origem obscura”. No entanto o radical “aps” [afase] significa em fenício
“extremo, fim, extremidade”, e “tøh”[tââ] é “desviar”. Assim, “apstøh”
[afastââ], deu o nosso “afasta”, e é, traduzido à letra, “desviar para o
extremo”, “desviar para o fim”, etc.. É “afastar”.
AFOITO
A palavra “afoito” deve provir do fenício
“øpløit” [âflôite], que significa “ser atrevido a assaltar” ou “assaltar
atrevido”. Nos dicionários habitualmente diz-se que a palavra “afoito” provém
do termo latino “fautu-”, que é “favorecido”, particípio passado de “favere”
(favorecer, apoiar), o que não parece fácil de aceitar.
AGARRAR
Aparentemente a palavra “agarrar” tem a ver
com “garra”. Habitualmente diz-se que o verbo “agarrar” vem de “garra” e esta
palavra viria de um hipotético termo celta “garra”, que significaria “parte da
perna”. É efetivamente possível que a origem do verbo “agarrar” seja o nome
“garra”, mas também este é por certo de origem fenícia (ver “garra”).
AGASALHO
Nos dicionários diz-se geralmente que
“agasalho” é uma derivação regressiva de “agasalhar”, e que esta palavra terá
origem numa forma “hipotética” “ad-gasaliare”, proveniente do gótico “gasalja”,
que significa “companheiro”. O facto é que “h ksl” [âkasale], em fenício,
significa “o vestido”, e “h ksh øl” [âkasââl) é “o que cobre por cima”. Ainda
hoje se usa a palavra “agasalho” exatamente nesse sentido de algo que cobre,
que se usa sobre outra roupa.
AGASTAR
A palavra “agastar” significa por um lado
“estar aborrecido, estar enfurecido, estar irritado”, mas por outro lado “estar
preocupado, estar apoquentado”. Dizem geralmente os dicionários que a palavra
vem do termo latino “vastare”, que significa “gastar”, mas essa parece não ser
uma explicação muito lógica. Em fenício “aggu” [agge] é “estar zangado, estar
furioso”, e “ašuštu” [assuste] é “depressão, dor”, portanto “agguašuštu”
[aggassuste] será “estar zangado e deprimido” ou “estar furioso e dorido”, etc.
AGONIA
Diz-se que a palavra “agonia” provém do grego
“agonia”, que significa “luta nos jogos, inquietação, ansiedade, angústia”,
pelo latim “tardio” e “eclesiástico”, “agonia” com o significado de “grande
medo, aflição”, mas também “vítima sagrada”. Faz sentido a relação estabelecida
entre estes termos latino, grego e português. No entanto, em fenício, “hgh”
[âgâ] é “gemido”, ou “gemer”, e “øni” [ôni] é “opressão, aflição”. “hghøni”
[âgâôni] será então “gemer aflito”.
AGUDA
As “agudas” ou “agúdias” são as formigas de
asa que saem de um formigueiro e dispersam para dar origem a novas colónias. A
palavra tem origem certamente em aḥd (agade), que significa em fenício “um, só,
solitário, o primeiro”. Já a palavra “agudo”, no sentido de “pontiagudo” deve
ter origem no termo latino “acutu”.
ALA! (interj)
A nossa interjeição “ala!” corresponde a
ideias como “embora! ide embora! anda!”. Em fenício existe uma interjeição
semelhante, “hl’h” [âlââ], que significa exatamente “para lá, adiante, daí em
diante”. Por outro lado, a forma “al” [ale] significa “para, em direção a”.
Portanto qualquer delas deve estar ligada ao nosso “ala”.
ALANCAR
A palavra “alacar”, ou “alancar”, significa
“vergar com o peso da carga, derrear”. Em relação com a primeira forma,
“alacar”, diz-se usualmente que tem origem em “a+lacão+ar”, sendo que “lacão” é
“pernil de porco, presunto” (?)[11];
em relação à forma “alancar” diz-se ser de “origem obscura”. Em fenício “anaĥu”
(com evolução habitual para “anagu” ou “anacu”) é “cansar-se, estar exausto”, e
“alh” [alê] significa precisamente “ser incapaz de, não conseguir”. Portanto a
forma completa, algo como “alhanacu” [alânaca], seria “ser incapaz por estar
exausto”, ou “não conseguir por cansaço”.
ALAS (estar em)
A palavra “alas” usa-se como regionalismo no
Alentejo, mas na forma “estar em alas”, o que significa “estar ansioso”. A
origem da palavra deve estar em “øls” [âlase] que significa “regozijar-se,
alegrar-se, desfrutar” ou mesmo de “øliz” [âlize] que quer dizer “alegre,
exultante”. No Algarve “ala” é “excitação; movimentação”, o que corresponde à
explicação apresentada para a origem desta palavra.
ALBERGUE
Um albergue é um abrigo, geralmente no campo,
onde se pode comer, beber e dormir. Há uma clara conotação da ideia de
“albergue” com proteção, e por isso no Brasil a palavra está associada a abrigo
de mendigos, enquanto por cá tem ligação a jovens e velhos, mas sobretudo a
localizações campestres e de montanha. Diz-se habitualmente que a palavra
“albergue” pode vir de um entre vários hipotéticos termos góticos, como
“haribairgo”, “hariberg”, “hariberga” ou “heriberga”, e que terá uma passagem
pelo antigo provençal, com o termo “alberc” ou “alberque”. Efetivamente a
palavra “albergue” do português, tal como o equivalente termo provençal, deve
ter origem fenícia em “al brḥ” [aleberga], que significa “para quem passa” ou
“para quem percorre”. O termo “brḥ” é muito próximo de “briḥ” [brig], termo que
significa “ferrolho, tranca, muralha”, que deu origem ao nome de várias
povoações que foram amuralhadas, e que consequentemente cumpriam a função de
proteção.
ALBÓI
Um “albói” é uma cúpula envidraçada para
iluminação, uma clarabóia, ou uma abertura para a entrada de luz e ar na
coberta de um navio. Um dicionário interroga-se se a origem do nome terá
relação com o “olho-de-boi”. É curioso que efetivamente a expressão
“olho-de-boi” (enquanto clarabóia) tem a mesma origem de “albói”, e que é “øl
bøh” [âlbôê], e significa em fenício “entrada superior” (ver “claraboia” e
“olho-de-boi”).
ALCANÇAR
A palavra “alcançar” deve provir de “alaku mṣ’h”[12]
[alakemesê], que significa traduzido à letra “alcançar no caminho”. Os
dicionários geralmente propõem a palavra latina hipotética “incalciare”
(palavra que nunca existiu) para explicar a origem do nosso verbo “alcançar”.
Este é mais um caso interessante em que uma expressão fenícia é transformada
num verbo regular do português.
ALCANCHAL
A palavra “alcanchal” é um regionalismo
alentejano que significa “caminho péssimo”[13]. Ora,
sabemos que “hlk” [âlake] significa em fenício “andar, caminhar”, e que “mslh”
[mesalê] quer dizer “estrada”. Portanto “hlkmslh” [âlakemechalê] será “caminhar
na estrada”, o que tem relação com o “caminho”, mas não com o facto de esse
caminho ser mau. No entanto “msh” [mechê] significa “provação, desespero” e
“øl” [âle] significa “subir, escalar”. Assim “hlkmshøl” [âlekemechêâle] será
“caminhar numa subida desesperante”. Parece provável que a origem do nosso
“alcanchal” esteja nesta última expressão.
ALÇA/ALÇAR
Alça é o que se levanta ou o que faz levantar,
provém certamente de “ølh øšh” [âlââssâ], que significa literalmente “fazer
subir”. Fala-se de uma forma hipotética latina “altiare” que derivaria de
“altare” que evidentemente terão relação com palavras da família de “alto”. O
verbo “alçar” tem evidentemente origem em “ølh øšh”, que já de si correspondia
a uma ação, mas que ao passar ao português atual se transforma num verbo
regular.
ALÇAPÃO
Alçapão provém com certeza da expressão
fenícia “ølh øšh” [âlâssâ] que significa “fazer subir” (ver “alçar”), à qual
foi acrescentada a palavra “pøm” [pôm], que significa “estrado”. Assim,
“alçapão” provém certamente de “ølh øšh pøm” [âlâssâpôm], e significa
simplesmente “estrado de fazer subir”. A explicação habitualmente aceite para a
origem da palavra “alçapão” é “alça+pom” (em que pom = põe), o que é uma
explicação mais que duvidosa.
ALÉM
A nossa palavra “além” deve provir de “hl’h”
[âlaê] que significa em hebraico antigo “para lá, adiante, daí em diante”, ou
do equivalente acádio “alla” [ala] que quer dizer nessa língua precisamente
“além”. Evidentemente que a possibilidade de a nossa palavra “além” provir do
italiano “illinc”, que significa “aí”, não faz o menor sentido.
ALEVIM
A nossa palavra “alevim” talvez provenha de
“alp im” [alevim], que significa “produzir aos milhares no mar”. A forma latina
hipotética “allevamen” proposta em alguns dicionários não faz sentido, antes do
mais por se tratar de uma palavra que efetivamente nunca ninguém pronunciou ou
escreveu, e além disso porque a evolução fonética seria difícil. Em francês a
palavra equivalente é “alevin”, e existe a hipótese de haver uma relação entre a
palavra “alevim” e o “élève” (estudante – o que aprende) francês. Parece no
entanto mais provável que a raiz “alp” [alef], ou [alev] se tenha juntado a
“im” que é “mar”, para criar a palavra que se refere ao que o mar produz em
grande quantidade, o “alevim” (ver “alfobre”).
ALFERCE
O “alferce” ou “alferça” é um instrumento
agrícola hoje pouco usado, mas que no passado tinha muito uso nas arroteias de
matos, bem como na atividade dos carvoeiros, sobretudo para desenraizar as
torgas das urzes. Também é conhecido por “alvião”. O nome deve provir de “allu”
ou “al” [ale] que significa “picareta, sachola, machado” e “brṣl” ou “przl”
[fersel], que significa “ferro”[14].
Do termo inicial “albrṣl” [alfersel] evoluiu-se para “albrṣ” [alferse], com o
significado de “”picareta, machado, sachola, de ferro”. Pode no entanto haver
mais simplesmente relação com o termo fenício “prs” [ferese], que significa
“partir, fender”. Seria assim “picareta, machado de fender”. Note-se como
particularmente interessante que o termo “alvião” tem origem no mesmo “ale”
(picareta, machado, sachola), seguido de “abn” [alavene] (machado de pedra). É
portanto um nome mais antigo, e evidentemente anterior à idade dos metais.
ALFOBRE
Certamente que a palavra “alfobre” provém de
“alp apr” [alefabre] ou “alp øpr” [alfobre][15],
termos que em fenício significam o mesmo: “produzir a milhares em terra fina”
(ver “alevim”). A ideia de que pode provir do árabe “al-hufar” com o
significado de “buraco” ou “fossa” não parece fazer sentido.
ALGAR
Um “algar” é um “poço ou abismo natural, mais
ou menos profundo, originado por vezes, de cima para baixo, pela ação das
águas…” Esta palavra “algar” deve provir de “lalgar” [lalgar][16],
que significa em fenício “abismo, água subterrânea”. A origem árabe geralmente
aceite, “al-gar”, também é possível, muito embora o significado do termo árabe
seja “caverna”, o que não corresponde exatamente à nossa noção de “algar”.
ALGARA
Uma “algara” era na Idade Média uma incursão
militar para saque em território inimigo. Era uma correria para saque dos
povos, muito mais que um ataque esperando resistência organizada dos
opositores. Diz-se que a palavra vem do árabe, de “al-gára”. É possível, mas em
fenício “hlk” é “marchar, correr”, e “gwr” é “hostilizar, atacar”. Portanto
“hlkgwr” [alkgôre] será “corrida para atacar” ou algo próximo.
ALGEROZ
Ao contrário daquilo que se propõe em alguns
dicionários, a palavra “algeroz” não deve provir do termo árabe “az-zurub”, o
que, mesmo J. P. Machado considera “evidentemente inaceitável”. Em fenício
“ĥalu” [ale][17]
é “escorrer, gotejar”, “šr’” [jere] é “fluxo”, e “aôz” [aôz] é “constranger,
ser muito apertado”. Logo, “ĥalušraôz” [alejereaôz] será “escorrer fluxo
constrangido”, o que está conforme com a função de caleira ou tubo de água.
ALGOZ
A nossa palavra “algoz” provém provavelmente
de “øolh” [âolê] que significa “holocausto”, e de “gz” [gaz], que é
“guerreiro”. A palavra “øolhgz” [âolêgaz] será portanto o “guerreiro do
holocausto”. Não é impossível que o nome se aplicasse em turco a uma tribo onde
se iam buscar os carrascos, e de resto a origem da palavra árabe medieval pode
ser a própria expressão semita antiga.
ALI
Costuma-se dizer que o nosso advérbio “ali”
tem origem na palavra “ad illic” latina, que significa “para aquele lugar”.
Contudo em hebraico antigo “hl’h” significa “para lá, adiante, daí em diante”.
ALICERCE
Em fenício “ølilh” [âlilê], significa “obra”,
e “šrš” [seresse] é “raiz”, “lançar raízes” (ver “cerce”). É claro que a
explicação tradicional que diz que a palavra “alicerce” provém de, “al-isãs”
palavra árabe, que significa “fundação”, faz sentido. No entanto “ølilhšrš”
[âlilêseresse], em fenício, significa “lançar raízes da obra”, o que também é
uma possibilidade interessante.
ALMA
A palavra “alma” deve resultar de uma fusão
entre o termo fenício “ølm” [alma], que significa “eternidade” tanto em
ugarítico, como em hebraico antigo, como mesmo em aramaico, com os termos
latinos “anima” e “animus”, que também podem ser taduzidos por “alma”. De resto
a palavra “alma” acumula hoje entre nós os significados provenientes de ambas
as línguas: por um lado a “anima” latina, que é sobretudo o princípio vital,
ligado à respiração, a própria respiração e a própria vida; o “animus” é
“vontade”, mas também “espírito”, o que é de algum modo oposto ao corpo. Do
fenício herdamos a fonética em si (a palavra é pronunciada da mesma maneira em
português e em hebraico), e a ideia geral de “eternidade”.
ALMOÇO
Parece pouco provável que a nossa palavra
“almoço” possa provir de “admordere”, que significa em latim “morder
levemente”. É possível que a origem da palavra “almoço” seja fenícia, já que
existe a forma “lam” que significa “primeiro”, e “mṣh” é “folhado de farinha e
água”, ou seja, “pão”. Pode assim a forma “lammṣh”, que à letra significa
“primeiro folhado de farinha e água”, ter passado a designar genericamente
“primeira refeição”. Há também a possibilidade de o “al” do início da palavra
“almoço” provir de “ḥl”, que significa “pão (de forma circular)”, e ter-se
dado, como em outros casos a elisão do “ḥ” inicial (ver “algeroz”). Assim seria
“ḥlmṣh” [alemassê], significando “pão de farinha e água”. Há contudo a
possibilidade de a nossa palavra “almoço” ser uma evolução de uma forma mais
antiga “aurmoço”. Esta forma pode ser ainda encontrada no noroeste de Portugal,
onde a palavra “almoço” por vezes se pronuncia “aurmoço”. Essa forma cria a
possibilidade de a origem ser “awr”, que significa precisamente “nascer do dia”
(esta partícula é comum à palavra “aurora”).
ALMOCREVE
Diz-se que a nossa palavra “almocreve” tem
origem no termo árabe “al-mukari”, que significa “jornaleiro”, o que não
corresponde nem ao significado do termo português, que é “comerciante,
mercador”, nem à fonética da nossa palavra. De facto o termo “almocreve” deve
provir de “ølm” [âlm], que significa “homem jovem” e de “mkr” [makare], que é
“negociante, mercador”[18].
Portanto “ølmmkr” [âlmmakere] significa “homem jovem mercador”. As formas mais
antigas (segundo J. P. Machado) são “almoqueri” e “almokeri”, o que deixa
admitir que a forma original seria essa, e portanto proveniente diretamente de
“ølmmkr” [âlmmakere]. Contudo, pouco tempo depois é encontrada a forma
“almoquever”, que chegou aos nossos dias. Esta forma pode ser resultado da
anterior “ølmmkr” [âlmmakere], à qual se anexou a palavra “ab”, que significa
“iniciador de profissão”. Assim a forma atual “ølmmkrab” [âlmmakareav] pode
significar simplesmente “homem jovem mercador de profissão”.
ALOILADO
A palavra “aloilado”, que significa “maluco,
tolo”, deve ter relação com o termo “lillu” [lile], que em fenício significa
“louco, fraco, débil, estúpido”. De resto deve ser a mesma origem de “loiro”
(no sentido de “pouco inteligente, incapaz”) que nada tem que ver com a cor, já
que também se aplica, por exemplo a animais como o papagaio, animal que “fala
sem saber o que diz”. Não se estranhe a evolução de “lillu” para “loiro”,
porque na passagem do fenício para o português atual a sequência “ll” deu
frequentemente lugar à sequência “lr”.
ALVIÃO
Um “alvião” é uma ferramenta usada para as
arroteias de matos, arrancar as torgas para carvoaria, e em geral para
trabalhos duros de transformação de terras bravas em terrenos agrícolas. É de
um lado uma picareta achatada, ou um sacho espesso e estreito, e do outro lado
uma machada grosseira. Diz-se geralmente que a palavra é de “etimologia
obscura”. Contudo esta palavra deve provir de “allu” ou “al” que significa
“picareta, sachola, machado”[19]
e “abn” que é “pedra, machado de pedra”. Portanto “alabn” [aleavene] será
“picareta machado de pedra”. Parece assim que o nosso termo “alvião” tenha uma
origem remota no neolítico, e o instrumento, hoje de ferro, tenha ainda o nome
que era dado aos machados de pedra desse período.
AMA
Diz-se que a palavra “ama” tem origem no grego
“amma”, pelo “latim hispânico” “amma”. Claro está que “latim hispânico” pura e
simplesmente é uma forma de chamar “latim” a palavras que foram usadas na
Península Ibérica, mas que nunca foram latim. O mais certo é a nossa palavra
“ama” provir de “am” [ama] que em fenício significa “mãe, madrasta, avó”,
portanto figura feminina responsável por uma criança.[20]
AMACHUCAR
A palavra “amašu” [amache] significa em acádio
“esmagar”; “mṣh” [massê] é “espremer” em hebraico antigo; “mazu” [maze] também
em acádio, é “prensar”, que é praticamente o mesmo. Junta-se a isto que o som “ṣq”
ou “ṣuq” [suq] significa “agarrar”. Assim “amachucar” deve provir de “amašuṣq”
[amachesuq], que significa “agarrar e esmagar”, de “mṣhṣuq” [massêsuq], que
significa “agarrar e espremer”, ou mesmo de “mazuṣuq” [mazesuq] que é “agarrar
e prensar”. No fundo é quase o mesmo, e as variações devem provir das
diferentes grafias usadas ao longo do tempo, de diferentes tipos de escrita e
de diferentes culturas. Tradicionalmente diz-se que a palavra “amachucar” tem
origem no termo castelhano “machucar”, mas sendo assim ficaria por explicar a
origem do termo castelhano, ou seja, é uma explicação que nada explica.
ÂMAGO
A nossa palavra “âmago” tem certamente origem
em “ømq” [âmaq] que significa em fenício “fundo, profundo, misterioso”.
Habitualmente diz-se que esta é uma palavra com “origem obscura”.
AMALHAR
O nosso verbo “amalhar” significa
“aquietar-se, encontrar local para repousar ou passar a noite”. Tem relação
evidente com “mlôn” [malôn], que significa “acampamento, pousada, cabana”, e
que veio a dar entre outros os nossos topónimos “malhão” e “malhada”. Parece
claro que esta ideia nada tem que ver com a “macula” latina, que é a origem
geralmente proposta para esta palavra.
AMANHAR
Os termos “amn” [omon] ou “amôn” [amon], que
significam em qualquer dos casos “artesão” devem estar na origem da nossa ideia
de “amanho”, e o verbo “amanhar” não é mais que a adaptação ao português da
ideia/palavra fenícia de “amn” ou “amôn”. A etimologia geralmente apresentada nos
dicionários é “manwjan” gótico, com o significado de “preparar”, ou de um
hipotético termo latino “admaniare”, que significaria “preparar com as mãos”. É
evidente que esta origem tradicionalmente aceite resulta apenas de se
desconhecer a origem fenícia do português, pois procurando no fenício
encontra-se imediatamente a origem da palavra. Como em muitos outros casos, a
partir da ideia de artesão e do seu nome em fenício “amn”, criou-se o verbo
“amanhar” do português.
AMARELO
Diz-se que a palavra “amarelo” provém do
“latim hispânico”, que evidentemente não é senão um conjunto de termos não
latinos usados na Península Ibérica durante e após o domínio do império romano.
Portanto a palavra “amarelo” deve ter outra origem, e ela é possivelmente
fenícia. Repare-se que em fenício “aml” [amale] é “murchar, perder o vigor,
desmaiar” (diremos nós, atualmente, “amarelar”) e por outro lado “leru” é em
acádio “massa amarela”. Portanto é possível que tenha existido a forma
“amallero” [amaleru] que evolui facilmente para “amarelo” como referência à
vegetação que toma a cor amarela quando murcha.
AMARGO
Refiro a palavra “amargo” como um bom exemplo
de como muitas vezes existe quase uma impossibilidade total de optar por uma
língua na busca da origem de palavras do português. A palavra “amargo”, seja no
que se refere ao paladar, quer seja no que se refere aos sentimentos, pode
efetivamente provir tanto do fenício como do latim, e é mesmo muito provável
que ela resulte da convergência fonética e semântica de palavras de ambas as
línguas. No latim “amarus” é “amargo ao gosto”, desagradável ao cheiro e ao
ouvido, mas também “triste, rancoroso”, etc. Contudo em fenício, entre outras
formas temos “mr”, que é “amargo”, “mrh” [marê] que é “amargura, tristeza”, mas
temos também “igh” [igâ] que é igualmente “amargura, tristeza”. Portanto a
forma fenícia composta para o equivalente à nossa palavra “amargo” seria
“mrigh” ou “mrhigh” [marêigê]. A palavra portuguesa resulta assim possivelmente
da reunião das duas palavras. Para além da sequência “mr”, que é comum às duas
línguas, recolheu o “a” inicial do latim, e recolheu também o “igh” final do
fenício.
AMARRAR
Em fenício, “ømr” [âmare] é “reunir, enfeixar”
(e também “agir violentamente”), e é certamente a origem da nossa palavra “amarra”,
palavra essa que foi transformada no verbo “amarrar” do português atual. É
habitual atribuir a origem da palavra “amarrar” ao francês “amarrer”, que por
sua vez será proveniente do neerlandês “aanmarren”.
AMARROTAR
A palavra “ømr” [âmare] é, em fenício, “agir
violentamente”, e “øwt” [ôôte] é “torcer, transtornar”. Assim, “ømrøwt”
[âmareôôte] é “torcer violentamente”. Claro que a palavra hipotética “manroto”
(palavra hipotética que significaria “rasgado com as mãos”) não passa de um
termo inventado para justificar uma etimologia que efetivamente se desconhecia.
AMASSAR
O verbo “amassar” deve ter origem em “massa”,
ou melhor, no seu étimo fenício “maṣh” [massâ], que é um “folhado de farinha e
água”. Como é sabido foram os povos do “crescente fértil” que inventaram a
cultura de cereais e que com eles fizeram alimentos vários à base de farinha.
Foi assim certamente que a farinha amassada do próximo oriente, a “maṣh”
[massâ], foi difundida ao mesmo tempo que se difundia o seu nome, e os gregos
aprenderam a amassar a farinha e herdaram além das sementes e da técnica, o
nome, chamando-lhe “máza”, e os romanos também usavam a palavra, mas grafada
como “massa”. Nós, portugueses, também termos a palavra “massa” e até usamos o
verbo “amassar”, e podemos encontrar a sua origem tanto no falar popular
fenício, como na língua do poder, o latim. Acrescente-se que a palavra “amašu”
em acádio é “esmagar” (ver “maça” e “massa”).
AMEIJOA
Ao contrário daquilo que alguém sugere, a raiz
da palavra “ameijoa” não deve ser o termo grego “mytílos”, que significa
“amêijoa, mexilhão”, até porque a sua evolução fonética seria muito difícil. A
nossa palavra “amêijoa” pode ser uma forma distorcida de um étimo antigo que se
conservou mais próximo do original na palavra equivalente castelhana “almeja”.
Nesse caso a nossa “amêijoa” teria origem na palavra fenícia “ølm” [âlme], que
é “fechar, encobrir, ocultar-se” e “az”, que significa “constranger, ser muito
apertado”. Portanto “ølmaz” (ãelmaz) seria qualquer coisa como “fechar fortemente”,
ou “apertar muito para ocultar-se”, etc. No entanto parece mais lógico que haja
uma raiz comum a “amêijoa”, “mexilhão”, “lamejinha”, já que em comum existe o
som “mx” ou “mj”, e se trata de moluscos bivalves. É assim possível que estes
nomes tenham relação com o termo fenício “amṣ” [amache], que significa “ser
forte”.
AMÉM
Palavra proveniente do hebraico antigo, de
“amn” [amene] ou “amnm” [amenem], termos que significam sensivelmente o mesmo:
“certamente, verdade, verdadeiramente, realmente”. Da forma hebraica passou-se
a uma forma grega (amén) e ao latim (amen), com o significado de concordância.[21]
AMOJAR
Diz-se por vezes que “amojar” provém de
“apojar”, e que este termo se relaciona com uma hipotética palavra latina
“appodiare”, que seria proveniente de “podium”, que significa “pedestal”.
Assim, o nosso “amojar”, que é “encher de leite as tetas” teria a seguinte
relação com “pedestal”: de “subir ao pedestal” viria a ideia de “crescer”, e
daí a ideia de “encher, entumecer”[22]. A
construção lógica é interessante e imaginativa. Contudo a palavra “amojar” deve
simplesmente vir do fenício de “mšh” [machê], que é “tirar, puxar para fora”,
de “mṣṣ” [masse], “chupar, mamar, sorver”, ou de “mṣy” [massi], que significa
“sorver, absorver”. Portanto “amojar” deve ter apenas relação com “mamar” ou
“ordenhar”.
AMPARAR
A palavra “amparar” vem possivelmente de
“amnøbrh” [amnâparê] que significa em fenício “mostrar-se forte, estável na
travessia de um rio”. “Amn” significa exatamente “mostrar-se firme, estável,
digno de confiança, ter estabilidade”, e “øbr” [âpare] ou “øbrhu” [âparêe] é
“passar, atravessar, passagem, a outra margem, agitação, vau”, mas igualmente
“agitação, emoção”, etc. Portanto o “amparo” é o apoio sólido em situações
difíceis. Resta dizer que habitualmente se afirma que a palavra “amparar”
provém de um hipotético termo latino “anteparar”, que significaria “fazer
preparativos para se defender”.
ANCA
Aceita-se tradicionalmente que a palavra
“anca” provenha de uma hipotética palavra germânica ou do frâncico “hanka” por
uma outra hipotética palavra latina “hanca”. Também se fala de várias outras
palavras hipotéticas de várias línguas. No entanto a palavra “anca” deve provir
de “nwḥ” [nâca] ou “nĥ” [naca], que significam “descansar, sentar-se”, “nôḥ”
[nôca] é “lugar de repouso, ou mesmo de “naĥu” [nôca], que significa “repousar,
estar tranquilo, banha, toucinho”, termos relacionados de perto com “anaĥu”
[anaca], que também significa “cansar-se, estar exausto”. Assim parece que o
termo “anca” se referia inicialmente à atitude de estar sentado em repouso, e
mais tarde passou a servir para nomear a parte do corpo que se apoia quando o
indivíduo se senta ou está em repouso. Há ainda uma clara relação (e não é
casual) com o tecido gordo que domina nessa parte do corpo (ver “banco”).
ÂNCORA
A palavra “âncora” é um bom exemplo da
precedência de uma palavra fenícia em relação a uma palavra latina. Como é
sabido as navegações fenícias precederam em milhares de anos a cidade de Roma.
Como também se sabe, as mais antigas âncoras conhecidas são de chumbo. A
palavra fenícia para “amarrar a prumo de chumbo” é “ankkrh” [ankarâ], e foi
certamente dado esse nome ao que nós hoje chamamos “âncora”[23]. Com
o tempo a âncora, enquanto técnica e objeto, difundiu-se pelos povos do Mediterrâneo,
e com eles se difundiu também o nome. Os romanos usaram também o objeto e a
palavra, e por isso podemos dizer que é através do latim que a palavra “âncora”
chega ao português. Mas se aceitarmos que o povo que foi conquistado pelos
romanos falava a velha língua do Neolítico, pode admitir-se que a nossa palavra
“âncora” já por cá existia e por isso terá origem anterior aos romanos.
ANDAR
A palavra “ømd” [âmde] é, em fenício, “estar
de pé”, “ndd” [nade], é “marchar, vaguear, mover”, “nd’” [nadê] é “afastar” e
“nwd” [nôde] é “vaguear”. A palavra “anda” é deste modo possivelmente
resultante desta ideia fenícia, expressa com diversas variantes fonéticas e
gráficas, mas que é basicamente o mesmo: “nd” corresponde a “mover, afastar,
vaguear” mas, como em outros casos, o “m” ou “n” de início da palavra foram
nasalados e passaram a “am” ou “an”. Deste modo o “nd” [nadê] do oriente passou
a “and” [ande] no falar do ocidente. Assim, deve ter nascido o nosso verbo
“andar”. Geralmente aceita-se que o nosso verbo “andar” tenha tido uma origem
latina em “ambitare”, frequentativo de “ambire”, que significa “ir em volta”, o
que não parece aceitável.
ANDOR
A palavra “andor” deve corresponder à
conjunção da ideia de “andar”, que vem de “nd” [nade] e de “estar por cima”,
que é genericamente “øl” [ôl] (ver “andar”). Assim, o que “anda elevado”, ou o
que “anda acima de” é “ndøl”. Conforme o “nd” fenício evoluiu para “anda” em
português, também o “ndøl” passou a “andoul”, e mais tarde a “andor”. É claro
que a hipótese de a nossa palavra “andor” ser proveniente do “sânscrito”
“hindola” ou do Malaiala “andola” não faz sentido.
ANDRAJO
Atribui-se geralmente uma origem “obscura” à
palavra “andrajo”. Contudo ela deve provir de “md” [made] significa
“vestimenta, vestuário, veste”, e “rwš” [râj] significa “ser pobre”. Assim,
“mdrwš” evoluiu para “amdrwš” [amderâj][24] dando
origem à nossa palavra atual, com o seu significado de “vestuário do pobre”.
ANGRA
Diz-se que a palavra “angra” provém do “ancra”
latino, que significa “intervalo entre árvores”. Como se sabe uma “angra” é uma
pequena baía, um local usado como ancoradouro natural. O nome evidentemente, e
ao contrário daquilo que se costuma afirmar, não pode provir da ideia de
“intervalo entre árvores”, porque simplesmente não há relação lógica entre as
duas coisas. A sua origem pode estar precisamente na palavra “âncora” e na
ideia de ancorar os navios, ou estar ligada a “ani ĥarru”[25]
[anigare], que significa “canal largo de navios”.
ÂNSIA
Em fenício “mš’” [masê] significa “sofrimento,
anseio”. Mas a palavra “mš’” [masê] ou “nš’” [nasê] significa também
“empréstimo, emprestar, fazer alguém ser devedor”, etc. Aproveito este exemplo
para explicar que o “m” e o “n” em alguns casos no fenício (particularmente no
início das palavras) serviam certamente para indicar uma nasalação (ou pelo
menos evoluíram nesse sentido para o português), devendo por isso ser lidos
“am” ou “an”, o que é, pruridos ortográficos atuais à parte, a mesma coisa. No
que se refere a esta palavra em particular, pode dizer-se que em latim existe a
palavra “anxia” que também corresponde à ideia de “angústia”, pelo que neste
caso é impossível determinar uma origem única para a nossa palavra “ânsia”.
Como defendo, este é mais um dos casos em que se percebe que a velha língua do
Neolítico deve ter sido origem de quase todas as línguas da região do
Mediterrâneo.
APAGAR
O nosso verbo “apagar” certamente não provém
de “ad+pacare”, que em latim significa “pacificar”, mas antes do termo fenício
“hpgh” [âpagâ], que significa “cessação”. Portanto, quando dizemos “apaga o
lume”, ou “apaga a luz”, etc., estamos efetivamente a utilizar a ideia de
“cessar”, “parar”, e não de “pacificar”.
APENAS
A palavra “apenas”, pelo menos quando
significa “logo que, assim que” deve ser proveniente de “apn” [apene], que
significa “então, ato seguido, na continuação”. Mesmo no sentido de “só,
somente, unicamente” a sua origem, embora mais tortuosa e menos clara, pode ser
igualmente fenícia. Deve observar-se que em fenício “ap” [ape] é “nada, o que
não tem valor, e, também, mas também, então também, pois, logo” e “n’ṣ” [nês] é
“desprezar, rejeitar”. Assim, “apn’ṣ” [apenês] pode ter sido na origem o “que
se rejeita por não ter valor” e ter sido usado mais tarde no sentido de “uma
parte”. Diz-se habitualmente que a palavra “apenas” resulta de “a+penas”, sendo
estas “penas” entendidas como “castigos”. Não é fácil encontrar algum sentido
lógico nesta proposta tradicional.
APOJAR
Diz-se que a palavra “apojar” provém de uma
hipotética palavra latina “appodiare”, que seria proveniente de “podium”, que
significa “pedestal”. Assim, o nosso “apojar”, que é “encher de leite as tetas”
teria a seguinte relação com “pedestal”: de “subir ao pedestal” viria a ideia
de “crescer”, e daí a ideia de “encher, entumecer”. Embora imaginativa, esta é
certamente uma relação demasiadamente forçada para poder ser levada a sério. Há
a possibilidade de “apojar” ser uma variante de “amojar”, e esta palavra deve
simplesmente vir do fenício de “mšh”, que é “tirar, puxar para fora”, de “mṣṣ”,
“chupar, mamar, sorver”, ou de “mṣy”, que significa “sorver, absorver”. Assim
“amojar” ou “apojar” seria proveniente da ideia de ter as tetas cheias e
capazes de ser ordenhadas ou mamadas. A passagem de “m” a “p” entre as palavras
“amojar” e “apojar” não parece difícil, se tivermos em conta que o som “b” e
“p” foram em tempos indistinguíveis, e que ainda hoje se troca o “b” pelo “m”[26].
APRE!
A palavra “apre!” é uma palavra que exprime
irritação, raiva, desespero. Alguns pensam que a sua origem é “expressiva”, mas
outros assumem que não conhecem a sua origem, classificando a palavra como de
“origem obscura”. De facto a palavra “apre” provém certamente de “øprh” [âprê]
e significa precisamente “ira, raiva”. Como hoje, em desespero se diz “que
raiva!”, também se disse “apre!” com o mesmo significado. A palavra ficou.
APRISCO
Um “aprisco” é uma cabana rústica feita de
ramagens para ovelhas, um redil. Diz-se que a palavra vem de um hipotético
termo latino “appressicare”, que significaria “apertar ou comprimir”.
Evidentemente que a origem é outra. Em fenício “ap” [ape] é “câmara fechada,
câmara, pátio” e “riksu” [rikeso] ou “rks” [rekeso] é “atar, amarrar, cingir,
laço, ligação”[27].
O “apriksu” passou após metátese a “aprisku” e o significado era “câmara
fechada ou pátio amarrado, ou atado”.
ARAME
Diz-se que a nossa palavra “arame” provém do
“latim tardio”, de “aramen”, que significa “bronze, objeto de bronze”, através
de termos latinos hipotéticos como “aramen” e “aramine”. De facto a palavra
“arame” deve provir da ideia de “corda de cobre” ou “corda de bronze”, ideia
que em fenício corresponde a “erumen”. A palavra “eru” em acádio é “cobre,
bronze”, e “mn” [men], em hebraico, significa “corda”. Portanto “erumen” é
literalmente “corda de cobre” ou “corda de bronze”[28].
ARCHOTE
“Archote” é uma palavra para a qual os
dicionários por vezes apontam uma “origem obscura” ou no termo latino “assula”.
No entanto a palavra “archote” tem uma origem fenícia clara e deriva claramente
de “ar ṣwt” [arsôte], que significa “acender luz” (“ar” é “luz, brilhar,
iluminar”, e “ṣwt” é “acender”). Uma análise mais cuidada teria evidenciado que
a nossa palavra “tocha” resulta de uma metátese de “chote”, e que “tocha” e
“archote” são uma mesma coisa, logo a sua origem deve ser procurada tendo este
facto em consideração.
ARENGA
Uma “arenga” é um “discurso longo e
fastidioso”, um palavrório que nunca mais acaba, mas também “palavrório”,
“discussão”, “altercação”. Diz-se que vem de um hipotético termo gótico
“harihrings”, que significaria “reunião do exército” e que a ideia de discurso
longo teria ficado dos discursos feitos nessas situações[29].
Possivelmente o termo tem origem na ideia de “ser longo”, dado que “araku”,
“ark” ou “arkh” [arekê] significa “ser longo, longo, longa duração, tornar
longo”. Pode no entanto, quando o termo “arenga se relaciona com “confusão”,
ter origem em “rnh ga” [renêga], em que “rn” significa “berro, grito de júbilo,
clamor, gemido”, e “ga” é simplesmente “voz”. Portanto, numa tradução livre,
“confusão de vozes”.
ARGAMASSA
A nossa palavra “argamassa” é uma palavra que
resulta da composição de duas palavras fenícias: “ørk” [âreka], que significa
“montar em camadas, empilhar, preparar, enfileirar” e “mšš” [massa], que é
“pegar em, agarrar”. Assim a “argamassa” é aquilo que “agarra o que se
empilha”, ou o que faz “pegar as camadas”, etc. Habitualmente diz-se que esta é
uma palavra de origem obscura.
ARISTO
Refiro aqui a palavra “aristo”, tanto com o
significado de “excelente, o melhor, o mais valente, o mais nobre”, como
enquanto elemento que exprime a ideia de “nobreza”, que tem relação direta e
óbvia com o termo grego “áristos”, apenas para que melhor se compreenda que há
radicais comuns em muitas línguas antigas do Mediterrâneo que dificultam a
determinação da origem do português atual. Assim, se em grego “áristos” é “o
melhor, o mais valente, o mais nobre”, em fenício, “h reštu” [êrestu] significa
“o de melhor qualidade, o primeiro, o melhor”.
AROEIRA
Dizem os dicionários que “aroeira” tem origem
em “darú”, que em árabe significa “lentisco”. No entanto, “ørôør” [aroèr]
significa em fenício “aroeira”. Não parece haver dúvidas sobre qual a
verdadeira origem da palavra[30].
ARPÃO
A nossa palavra “arpão” deve ter origem em “ḥrb”,
[arpe] que em ugarítico significa “cutelo, espada, atacar”, e em hebraico
antigo “faca, punhal, espada, formão”. Parece possível que, como em outros
casos, o ḥet do início da palavra tenha simplesmente desparecido, e “arpe” daí
resultante tenha recebido o sufixo aumentativo “ão” (ver “farpa”). J. P.
Machado apresenta teorias em que se relaciona o nosso “arpão” com o “harpon”
francês (o que é certo e não se discute), e este com o termo do antigo
escandinavo “harpa”, que significa “ação de torcer” e “cãibra”. É claro que não
é com facilidade que se encontra relação lógica entre “arpão” e “torcer” ou
“cãibra”. Por isso mesmo parece mais sensata a hipótese de “ḥrb”.
ARRABAR
A palavra “arrabar” significa “fugir por causa
das moscas”. A sua origem é certamente “ørb” [ârabe], que em fenício significa
“mosca, bicharia, insetos”. Geralmente os dicionários admitem desconhecer a
origem desta palavra.
ARRAIAL
Muitas páginas se gastaram a escrever sobre a
origem desta palavra, desde uma possível filiação árabe, em “rahl”, com o
significado de “albarda, sela de camelo”, até uma origem latina em “regale”. No
entanto a palavra “arraial” tem certamente origem em “haraiøu” [âaraiôu], que
significa em fenício “gritar, berrar, clamar, emitir brado de guerra, convocar
às armas, aclamar”. Em fenício esta palavra também se usou na forma “rwø”
[raiôu], daí que em português antigo as palavras “arraial” e “real” apareçam
associadas. A famosa frase “Arraial, Arraial, por El-Rei de Portugal D. João
IV” que terá sido gritada no dia 1º de Dezembro de 1640 da janela do palácio da
ribeira, onde foi morto Miguel de Vasconcellos, tem ainda esse significado
antigo: “emitir brado de guerra, convocar às armas, aclamar”.
ARRANJAR
Diz-se que a nossa palavra “arranjar” tem
relação com um hipotético termo frâncico “hring” com o significado (também
hipotético) de “círculo, anel”, o que parece ser bastante forçado, tanto pela
disparidade dos significados, como pelo facto de se tratar de um termo
hipotético, como mesmo por não ser fácil a evolução fonética entre “hring” e
“arranjar”. O verbo “arranjar” pode ser de origem fenícia e resultar da palavra
“ḥrš” [araje] que significa “artesão, preparar, artífice”, etc. Neste caso o
som aspirado do início da palavra que existia na antiga língua do oriente, que
frequentemente corresponde no ocidente a “c” ou “g”, terá desaparecido, ou
melhor, terá evoluído para o nosso “a”.
ARRASTAR
Dizem os dicionários que o nosso verbo
“arrastar” tem origem na palavra “rasto”, e esta no termo latino “rastro”, que
significa “ancinho”. No entanto em fenício “arṣ tøh” [arastôâ] significa “andar
errante pelo chão” ou “vaguear pelo chão” (ver “arrojar”).
ARRE
Diz-se que a palavra “arre!” é de “origem
expressiva”. No entanto “ør” [ârr] significa “jumento”, e “øir” [âirr] é “jumento,
garanhão, zebra”. Quando se diz “arre burro”, está-se a dizer “burro” duas
vezes (ver também “arrear” e “arreata”).
ARREAR
Arrear é colocar os arreios, preparar um
animal, cavalo ou burro, para ser montado ou fazer algum trabalho. Diz-se que a
palavra provém de um hipotético termo do “latim popular” “arredare”, que teria
sido formado a partir de um outro termo do gótico “rêd”, que significa “meio,
provisão”. No entanto é claro que “ør” [ârr] significa “jumento”, e “øir”
[âirr] é “jumento, garanhão, zebra”, e que logicamente a palavra “arrear” está
ligada a este radical. Assim, “arrear” pode ser a evolução fonética natural de
“øirøl” [âirâl], o que significa “sobre o cavalo”, “por cima do cavalo”, “por
cima do burro”, etc., mas pode simplesmente ser um verbo construído a partir da
palavra “arreio”.
ARREATA
A nossa palavra “arreata” tem certamente
origem em “øirøţh” [âireâtâ] (“øir” significa “cavalo, burro”, e øţh quer dizer
“agarrar”), o que significa “agarrar o cavalo” ou “agarrar o burro” (ver “arre”
e “arrear”). Dizem geralmente os dicionários que “arreata” é uma derivação
regressiva de “arreatar”, e que este termo é proveniente de “re+atar”.
ARREMESSAR
Dizem alguns dicionários que a palavra
“arremessar” provém do termo “remissare”, do “latim vulgar”. J. P. Machado
lembra a existência de uma forma “remesso”, antecedente do nosso atual
“arremesso”. Parece-me muito mais provável que a sua origem seja o “rmh”
[remê], que significa “arremessar, atirar, lançar, jogar”.
ARRIMAR
Ver “rima”
ARROCHO
A palavra “arrocho” pode provir de “øṣ” [ôche]
com o significado de “haste, madeira”, e de “hr” [âre], que é “serra, monte,
montanha”. Assim “hrøṣ” [âreôche] será literalmente “haste da serra”, ou
“madeira da serra”, logo irregular e que de algum modo se opõe a outras hastes
mais cuidadas. Daí se dizer por exemplo “torto que nem um arrocho”. Usualmente
classifica-se a nossa palavra “arrocho” como sendo de “etimologia obscura”.
ARROIO
A palavra “arroio” pode provir do termo
fenício “hr rwh” [ârrôê], que significa “regar da serra”. Repare-se que o
radical “hr” [âre], que significa “serra, monte, montanha” está presente na
toponímia (muitas vezes na forma “aire”), mas também em muitas palavras do
português. Já o termo “rwh”, que significa “embeber, regar, irrigar,
encharcar”, é próximo de “rwih” que quer dizer “superabundância,
transbordamento”. Numa tradução mais livre pode dizer-se que “hrrwih” será “o
que escorre ou transborda da serra”. Aceita-se tradicionalmente que esta
palavra “arroio” seja de “origem pré-romana” com uma passagem por um hipotético
termo “arrugiu”, que significaria “galeria de mina”.
ARROJAR
A palavra “arrojar”, quando significa “andar
de rojo”, deve provir de “arṣ” [aras], que significa em fenício “chão, terra”,
e assim se compreende que “andar de rojo” ou “arrojar” seja proveniente da
ideia de “andar pelo chão” ou “andar por terra”. Já a mesma palavra, mas quando
significa “coragem, atrevimento”[31]
pode provir de “arwz” [arôz] que significa “firme”, ou mesmo de “ørz” [ârz],
que significa “terrível”. Os dicionários geralmente apontam o termo latino
hipotético “rotulare”, que significaria “rodar, lançar a rodar, fazer rodar”,
como sendo a origem do nosso “arrojar”. Claro está que esta hipótese não é
aceitável.
ARROMBAR
Diz-se geralmente que a palavra “arrombar” vem
de “rombo”, e que esta palavra é de “etimologia duvidosa”. Há várias
possibilidades para a etimologia destas palavras, tanto na língua fenícia, como
mesmo no latim. Os latinistas parecem desconhecer que o “b” e o “p” foram
pronunciados de forma indistinta entre as populações nativas pré-romanas, e que
por isso o “rumpo” latino, que significa “romper, quebrar, rasgar” passou com
facilidade a “rumbo”, daí ao nosso “rombo”, e ao “arrombar”. No entanto em
fenício “arôn ba” [arônba] é “entrar na arca”, “entrar na caixa”, e portanto
haverá facilmente uma convergência entre as palavras das duas línguas.
ARROTEAR
A palavra “arrotear” tem origem certamente em
“ørr” [ârre], que significa em fenício “arrasar, destruir” e em “at” [ate], que
é “instrumento agrícola de ferro cortante (relha de arado, enxada, picareta).
Portanto “ørrat” [ârreate] é “arrasar ou destruir com instrumento agrícola de
ferro cortante como uma enxada ou uma picareta”. Usualmente aceita-se que a
nossa “arroteia” provenha de “roto” e que o nosso “roto” tenha origem no
“ruptu” latino, partícípio passado de “rumpere”, que significa “romper,
separar”.
ARRUMAR
Diz-se que a palavra “arrumar” tem ligação ao
francês “arrumer” e ao alemão “rum”, que é “espaço”, mas que eventualmente
tenha também sofrido influência de “arrimar”, que é pôr em “rima” ou “ruma”
(pilha de coisas). É claro que o nosso “arrumar” tem efetivamente ligação a
“ruma” ou “rima”, que são palavras provenientes do fenício relacionadas com a
ideia de “levantar, elevação, alto, altura” (rmh, r’m, rwm), e associadas à
ideia de “fazer montes, empilhar”. No entanto o nosso verbo “arrumar” deve ser
proveniente de “ørm” [ârm], que em fenício significa precisamente “amontoar,
juntar”,
ÁS
Tanto a nossa palavra “ás”, no sentido de
pessoa com especial capacidade ou que tenha realizado feitos notáveis, como o
sufixo “-az”, que expressa a ideia de robustez, como mesmo a palavra “aço” ou a
nossa palavra “rapaz” devem ter uma origem comum nos termos fonética e semanticamente
próximos existentes no fenício: “øz” [âz] ou “øzz” [ââz] significa “forte,
duro, violento, força, valente”, etc. Mesmo o “ás” do jogo de cartas deve
certamente o nome ao facto de ser “o mais forte”[32].
Evidentemente não existe nenhuma relação lógica interessante entre a unidade
para dinheiro, pesos e medidas a que os romanos chamavam “as”.
-ASCO
O sufixo “asco” exprime uma ideia de
“semelhança, atenuação, aproximação”, considerado por vezes como sendo de
origem pré-latina. Em fenício “škk” [sake] é “diminuir, aplacar-se, amainar”, o
que corresponde exatamente à ideia de “atenuação” do prefixo. Quando o sufixo
“asco” se relaciona com algo de mau, a origem deve ser “asakku”, que significa
“abominação” (ver “asco”).
ASCO
Diz-se geralmente que a palavra “asco” teve
origem no termo grego “eskhára”, que na verdade poderá estar na origem de
“escara” (crosta de ferida), mas não de “asco”. Este “asco”, que é “aversão,
nojo, rancor, ódio”, evidentemente nada tem que ver com crostas de feridas, e
tem certamente a sua origem em “asakku” [asake], que significa “abominação”.
Este mesmo radical “asakku” pode ser encontrado como parte de várias palavras
do português, como seja “fiasco”, “panasca”, “ascoroso”, etc.
ASCOROSO
A palavra “ascoroso” corresponde à ideia de “aquele
que gosta de abominação”. Se “asco” provém de “asakku” com o significado de
“abominação”, “rṣh” completa a ideia, porque significa precisamente “ter
satisfação, agradar-se de, gostar de”. Assim “asakkurṣh” [asakerasê] veio a dar
o nosso “ascoroso” com o significado de “o que gosta de abominação”.
ASELHA
A palavra “aselha” pode provir de “asa”,
quando significa “pega” ou algo que cumpre as mesmas funções. No entanto,
quando aplicado a pessoas, o seu significado é de “incapaz, indolente,
desajeitado”. Evidentemente que este “aselha” nada tem que ver com “asa”,
estando antes relacionado com “øṣl” [âsela], que significa em fenício
“indolente, preguiçoso”.
ASILO
Diz-se que a palavra “asilo” provém do termo
francês correspondente “asile”, e que esta palavra vem do grego “ásilon”.
Contudo a origem primeira da palavra deve ser encontrada no termo fenício “aṣil”
que significa “partes mais remotas da Terra”[33].
ASNA
A “asna” é a armação que suporta o telhado,
portanto a estrutura que lhe dá solidez, o esqueleto. A palavra evidentemente
não provém do termo latino “asina” que significa “burra”, mas antes de “øṣm”
[âsm], que é uma palavra fenícia que significa “ser forte, ser poderoso,
esqueleto”.
ASSANHAR
(Ver “sanha”)
ASSASSINO
Refere-se que a nossa palavra “assassino”
teria tido origem na palavra árabe “haxãxi”, que significa “haxixe”. Parece que
ninguém se apercebeu da semelhança fonética e semântica entre as palavras
“chacina” e “assassina”, ao mesmo tempo que se achou que “chacina” teria tido
origem numa palavra inventada a propósito (isicium) que significaria “salsicha”[34].
Em fenício “šsh” é “saquear, espoliar”, “šss” é “saquear, pilhar” e “šsø” é
“despedaçar”. Por outro lado “inh” significa “ser violento, oprimir”. Assim,
“šshinh” significa “saquear com violência”, “despedaçar com violência”, “pilhar
e oprimir”, etc., e é essa por certo a origem das nossas palavras “chacina” e
“assassino”.
ASSIM
O nosso advérbio “assim”, ao contrário daquilo
que já se tornou habitual afirmar, certamente não provém do termo latino “sic”
ou de “ad+sic”. Parece muito mais provável tenha nascido do termo fenício “azi”
[asi], que significa “então, aí”, e que é foneticamente muito próxima da forma
do português antigo “assi”.
ASSUSTAR
A palavra “assustar”, bem como “susto”, e as
restantes da mesma família devem ter origem no termo “ašuštu” [asuste], que
significa “depressão, dor, desordem, balbúrdia”. Evidentemente nada têm que ver
com o termo “sustar”, nem “suster”, que é a origem geralmente aceite.
-ATA
O sufixo “ata” que indica geralmente uma
“coleção de alguma coisa, uma reunião” provém certamente da mesma raiz de
sufixo “-ada” que com ele divergiu a partir do termo fenício “ødh” [âdâ], que
significa precisamente “reunião, assembleia, repetição, continuidade”. Ver
“-ada”.
ATABAFAR
A palavra “atabafar” resulta da junção da
palavra “øţh” [âtâ], que significa “cobrir, envolver”, e de “abafar” cuja
origem deve ser “øbazh” [âbazâ][35],
com o significado de “cobrir para proteger”, ou “cobrir para aquecer” (ver
“abafar”). Habitualmente considera-se que a palavra é de “origem obscura”, ou que
resulta de um “cruzamento” entre “abafar” e “atafegar”.
ATABALHOAR
A palavra “atabalhoar” é dada com sendo de
“origem obscura”. No entanto a sua origem é claramente fenícia, e resulta do
radical “bll” [balale] que é “confundir”, ou de outras formas próximas, como
“blø” [balâ], que é “confusão”, ou ainda de “balalu” [balale], que significa
misturar (é deste radical que vem a nossa palavra “baralhar”), precedido da
palavra “øwt” [ôât], que significa “torcer, transtornar”. Assim, “øwtbll”
[ôâtabalale] será “transtornar confundindo”, “transtornar misturando”.
ATACADOR
Ver “atacar” (ligar, apertar)
ATACAR (lançar um ataque contra)
A palavra “ataque” é comum em várias línguas
românicas atuais, pelo que geralmente se pensa nestas situações que terá uma
origem latina. Diz-se que a palavra portuguesa tem origem no termo italiano
equivalente “attaccare”. No entanto parece não existir uma raiz latina que
explique a origem desta palavra, e pelo contrário existe uma raiz fenícia que
se ajusta muito bem ao significado da palavra: “hwt tqø” [âettaqâ] significa
“atacar ao som da trombeta”.
ATACAR (ligar ou apertar)
A palavra “øtk” [ataca] significa em fenício
“atar, ligar”. Quando se fala de cordões de sapatos, os “atacadores”, já se
percebe a origem da palavra. Evidentemente não há relação nenhuma com “ataque”.
ATAFEGAR
A palavra “atafegar”, que significa “abafar,
asfixiar, sufocar apertando o pescoço” deve provir de “øţp” [âtaf], que
significa “envolver, desfalecer, desmaiar” e de um outro termo fenício “pḥ”
[fag], que quer dizer “laço”. Portanto “atafegar” pode provir de “øţppḥ”
[âtâffâg], que significa “laço que faz desfalecer”.
ATAFONA
Uma “atafona” é um moinho movido por pessoas
ou animais. Segundo o Cardeal Saraiva, o termo é proveniente do hebraico, de “țḥn”[36]
[tafn], de “țḥnh” [tafnâ] ou de “țḥôn” [tafôn], termos muito próximos que
significam respetivamente “moer”, “moinho” e “mó”. É possível esta relação,
muito embora corresponda à passagem do ḥet fenício ao “f” português, o que
parece que realmente ocorreu em alguns casos[37].
Alguns dicionários apontam o termo árabe “tahunã” como origem da palavra
portuguesa, o que é igualmente aceitável.
ATANCHAR
A nossa palavra “atanchar” é certamente de
origem fenícia. O termo “atnøšh” [atanâchâ] é “colocar firme”, significando
“atn” [atane] “ser firme, constante, perene”, e “øšh” [âchê] é “colocar, pôr”.
Por outro lado, “øs” significa “haste”, portanto o termo “atnøṣ” [atanâse]
significa “haste firme”. Existe no entanto a hipótese de a palavra “atanchar”
provir de “tanchar”, e de esta ser uma metátese de “chantar”. A palavra
“chanta” era na Idade Média a “estaca”[38] que
se metia na terra para criar raízes, mas esta palavra deve provir de “šnntø”[39]
[channtâ], que significa “mudar planta nova” (ver “chantar”). A possibilidade
de “chantar” ter origem no termo latino “plantare” é geralmente aceite, mas
parece mais lógica a origem fenícia.
ATAR
A nossa palavra “atar” deve provir de “øțh”
[âtâ], que significa “agarrar”. Em latim existe a forma “aptare”, que significa
“adaptar, ligar; preparar, dispor; munir de”, que costuma ser considerada como
a origem do nosso verbo “atar”. Contudo parece claro que o “øțh” [âtâ] é uma
palavra que evoluiu por via popular, proveniente do fenício, e deu origem ao
nosso “atar”, enquanto as palavras “apto” e o “adaptar” tiveram origem no latim
e chegaram a nós por via erudita.
ATARRAXAR
Ver “tarraxa”.
ATAVIAR
A palavra “ataviar” significa “enfeitar,
colocar adornos”. Diz-se que a palavra “atavio” e o verbo “ataviar” têm origem
num termo gótico “taujan”, que significava “fazer”, e que por uma hipotética
palavra latina “adtaviare” teria chegado ao nosso “ataviar”. A palavra é por
certo fenícia e resulta do radical “iph” [ivê], que significa “tornar-se belo,
enfeitar, adornar, embelezar-se” e de “øţh” [âtâ] que é “cobrir, envolver,
agarrar, limpar”. Assim, “øţhiph” [âtâivê] é “cobrir de enfeites”, “agarrar
adornos”, etc.
ATÉ
Disse-se que a preposição “até” era
proveniente do árabe “hattã”, mas essa possibilidade foi tida por inaceitável
pela antiguidade desse vocábulo. A nossa palavra “até” tem como principal
significado a ideia de “limite”, e essa ideia deve resultar do termo fenício
“atti” [ati], que significa precisamente “limite”. No entanto há outros termos
fenícios que confluíram certamente para a formação do significado atual da
nossa palavra “até”: “at” [ate] é “sinal”; “øt” [âte] é “tempo, momento,
época”; “øth” [âtê] é “imediatamente, nesse momento”; “itu” [ite] é “limite;
“itti” [iti] é “com”; “ødt” [âdte], “momento”, “sinal”. O nosso “até” deve ter
uma origem próxima destes radicais antigos.
ATEZANAR (ou atazanar)
A palavra “atezanar”, ou “atazanar” deve ter
origem em “tazanar”. O radical “twh” [teâ] significa “entristecer, molestar” e
em “šnh” [sanâ], que é “repetir, fazer de novo”. Portanto “twhšnh” [teâsanâ]
veio a evoluir para o nosso “atazana” mantendo o significado fenício original
“molestar repetidamente”.
ATCHIM
A palavra “øtišh” [âtichê] significa “espirro”
em fenício, logo a origem do nosso “atchim” é fácil de perceber.
ATINAR
Atinar é “ter tino”, e “tino” é “juízo”;
“perder o tino” é “perder o juízo”. Em fenício “din” [dine] ou “danu” [dane] é
“juiz, julgamento, julgar, juízo”. Não restam dúvidas que será essa a origem da
nossa palavra “tino”, e por consequência do nosso verbo “atinar”. Habitualmente
tem sido aceite que esta palavra é de “origem obscura”.
ATIRAR
Afirma-se geralmente que o verbo “atirar” tem
origem na palavra “tirar”, e que esta é de “origem obscura”. Contudo em fenício
“ath” [atê] é “vir, trazer” (“atw” é “vir, chegar, ir”), e “irh” [irâ] “lançar,
atirar” (ou “yry”, que é “disparar”)[40].
Portanto “athirh” é “ir, vir, trazer atirando, ou lançando”, ou “vir disparar”,
etc.
À TIRA
Apenas por curiosidade refere-se que a
expressão “à tira”, que no século XV significava “à pressa”, deve provir da
adulteração da expressão fenícia “øti”, que significa “com prontidão,
imediatamente” e de “øwr”, que significa “levantar, pôr em movimento”. Num
texto reproduzido por José Pedro Machado, lê-se: “… são aves de grande fome e
voão muito a tira”. Ora como se pode ver o termo fenício “øtiøwr” [âtiâêr] deve
corresponder exatamente a esta ideia “movimentar-se imediatamente”, ou
“levantar com prontidão”.
ATOAR
A palavra portuguesa “atoar”, que significa
“levar à toa”, deriva da nossa palavra “toa” e esta corresponde claramente ao
termo fenício “tøh” [tôâ], que significa “andar errante, vaguear, estar
confuso”, ou à forma próxima “ţøh”[tôâ], que quer dizer “vagar, desviar”.
ATOLAR
Este verbo relaciona-se certamente com o termo
“tola”, que ainda se usa no Minho para designar as aberturas nas margens dos
cursos de água, e deve estar relacionado com a palavra fenícia “tølh”, que
significa precisamente “vala, aqueduto, canal”. O verbo “atolar” resulta
provavelmente da forma “ht tølh” [attôlâ], que significa “cair sobre vala”,
“cair sobre canal”.
ATRÁS
É muito provável que a nossa palavra “atrás”
seja proveniente de “aṯr”[41]
[atchre], termo que em ugarítico significa “atrás, atrás de, depois”, e não do
termo latino “trans”, que significa “além de”.
ATRASAR
Evidentemente que o verbo “atrasar” tem origem
em “atrás”, e este termo fenício “aṯr” [atra], que significa “atrás, atrás de,
depois” (ver “atrás”).
AVELÃ
Aceita-se geralmente que a nossa palavra
“avelã” tenha nascido do termo latino “avellana”, e que este tenha relação com
o topónimo “Abella” (cidade da Campânia). No entanto, tanto a nossa “avelã”,
como mesmo a “avellana” latina, devem ter nascido do termo acádio “abalu”
[avale], que significa “estar seco”, e corresponder à ideia genérica de “fruto
seco”. Veja-se também o verbo “avelar” ou “abelar”.
AVELAR
A palavra “avelar” é pronunciada tanto em
Trás-os-Montes como em parte do Alentejo como “abelar”[42], e
significa “secar, murchar, engelhar”. Evidentemente que, ao contrário daquilo
que afirmam alguns dicionários, este “avelar” não tem origem no fruto a que
damos o nome de “avelã” (mas já o contrário pode ser verdade). A palavra
encontra paralelo no léxico acádio que nos ficou de tempos muito anteriores à
nossa era, já que existe o termo acádio “abalu”[43]
[avale], que significa precisamente “estar seco”.
AVENÇA
Diz-se que a palavra “avença” tem origem num
hipotético termo do latim “advenentia”, que por sua vez seria proveniente do
“advenire” latino, que significa “chegar, advir”. Parece mais lógico que a
palavra “avença” tenha tido origem em “abh šwh” [avêchôâ] que significa
“pagamento ou retribuição aceite”, ou “pagamento acordado”, ou seja uma
retribuição previamente combinada (“abh” quer dizer “aceitar, estar disposto a,
concordar em”, e “šwh” significa “pagar, retribuir”).
AVENTAL
Usualmente diz-se que a nossa palavra
“avental” é de origem latina, de “ab ante” (diante). No entanto “pnhtlh”
[vanetale] significa em fenício “pendurar à frente”. O radical “pnh” significa
em hebraico antigo “o que está à vista, frente, fronte” tem equivalente acádio
em “panatu” [vanate], com o significado de “diante, em frente”. O “tlh” é um
radical bem conhecido e que passou com muita frequência para o português. Na
toponímia ocorre muitas vezes com o significado original de “colina” (“têlu”,
“tellu”, “tillu”, “tl”, são formas gráficas diversas do ugarítico, do acádio e
do assírio, com o mesmo significado) em topónimos como “telhado”, “telha”, etc.
Com o sentido de “suspender, pendurar” existe em português a forma “talego” –
“tlh+øgh” com o significado de “pendurar pão” ou “pendurar bolos”. De resto, e
é conveniente por vezes pensar nisto, a palavra “avental” dizia-se
“subligaculum”, que evidentemente não tem relação alguma com o nosso “avental”.
AVÔ
A palavra “avô” tanto pode provir do latim
“avus” (avô, os antepassados, um antepassado), como do fenício “ab” [ave], que
significa “pai, antepassado, ancestral”. De resto, se como tudo indica a
palavra “ab” era usada pelo povo do Neolítico que colonizou o Mediterrâneo, é
fácil perceber de onde nasceu tanto o “avus” latino como o “avô” português.
AVOAR
Em várias regiões do país se usa a forma
“avoar” por “voar”. Ao contrário do que pode parecer, não se trata certamente
da corrupção da palavra latina “volare”, mas antes a manutenção do termo
original de origem fenícia “øp” [âve], que significa precisamente “voar”. De
resto, este “avoa” ou “aboa” continua a ser regionalismo, querendo dizer
“borboleta” algures no Alentejo, e “joaninha” no Algarve[44].
“-AZ”
O sufixo “-az” [az], que expressa a ideia de
robustez deve ter uma origem nos termos fonética e semanticamente próximos
existentes no fenício: “øz” [âz] ou “øzz” [az] significa “forte, duro,
violento, força, valente”, etc. (ver também “ás”).
AZAR
Usualmente é aceite que a nossa palavra “azar”
provenha do árabe “az-zaHar”, que significa “felicidade, dados”. Se “azar”
começou por ser felicidade, e só depois se transformou em “acaso” ou “falta de
sorte”, então o termo pode ser fenício, porque “ašr” [azare] em hebraico antigo
é precisamente “felicidade”. Por outro lado, “ašar” significa em acádio “no
caso de”, o que parece ser uma referência à contingência da sorte, que lembra o
“hasard” francês.
AZEITE
Um exemplo interessante da evolução de uma
palavra de origem “fenícia” para o português, em que a fonética evolui para uma
palavra atual do português, mas o sentido original se mantém, é “azeite”. O
“azeite” é por um lado o produto alimentar que todos conhecemos, mas por outro
lado usamos a palavra “azeite”, sempre associada ao verbo “estar”, num sentido
completamente diferente: “estar com os azeites”, significa “estar zangado”,
“estar furioso”, “estar de mau humor”. A palavra “azeite”, quando se refere ao
produto alimentar, pode provir do árabe “az-zait”[45]. Já a
ideia, completamente diferente da palavra “azeite” na expressão “estar com os
azeites” provém certamente de “az øit”[46]
[azâite], que significa “vociferar com violência”.
AZINHEIRA
Diz-se que a palavra “azinheira” tem origem
numa hipotética palavra latina “ilicinu” que seria proveniente do “ilex”
latino. Parece mais provável que a nossa “azinheira” tenha nascido de “øṣ nir”
[âsenir] que significa “árvore dos campos arroteados”. É possível que
inicialmente fosse uma árvore poupada nas arroteias, ou mesmo semeada nos
terrenos arroteados para a produção de bolota que, ao que parece, foi elemento
importante da alimentação humana.
AZEVÉM
A nossa palavra “azevém” deve ter tido origem
em “øšb” [âchev], com o significado de “erva”. Ainda hoje, no norte do país,
quando alguém diz que vai semear “erva” vai efetivamente semear “azevém”.
Diz-se geralmente que a palavra “azevém” é de origem obscura.
[1] - O
Cardeal Saraiva já refere este termo “aba” com sendo de origem hebraica ou
caldaica.
[3] - Note-se como o termo acádio “abaru” equivale ao
“ôpèrèt” hebraico antigo. Parecendo palavras foneticamente muito diferentes,
não o são. O “t” final é por certo sinal de género feminino, enquanto o “b” e o
“p” permutam com grande facilidade nestas línguas e entre nós devem mesmo ter
sido indistintos.
[4] -
Também Moisés Espírito Santo refere a etimologia fenícia desta palavra no seu
Dicionário de Fenício-Português. O Cardeal Saraiva, em 1835, já se referiu a
este verbo como tendo a origem que aqui defendemos.
[5] -
Também o Cardeal Saraiva entende ser esta a origem da palavra “acha”.
[6] -
Também o Cardeal Saraiva pensa ser esta a origem da nossa palavra “açoite”.
[7] - Este radical “aku é bastante usado na nossa língua,
podendo no entanto passar despercebido. Veja-se como ocorre por exemplo em
“acanhado”, “acatar”, “acabrunhado”, etc.
[8] - A
forma “dâku” é acádia, enquanto a palavra “dk” é ugarítica. Existem também
formas próximas no significado e na fonética no hebraico antigo. Possivelmente
todas se pronunciariam de modo próximo e teriam significados semelhantes.
[9] - “Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se
usaram e hoje regularmente se ignoram”, de Fr. Joaquim de Santa Rosa de
Viterbo, Tomo primeiro, pag. 27.
[10] - Versão comum e repetida em variadas obras, mas que dificilmente se
compreende e se poderia alguma vez aceitar. De resto, alguns dicionários
franceses têm semelhante explicação para a palavra “adouber”, e possivelmente
foi esta explicação que “inspirou” a que se usa para o nosso “adubar”. O
“adouber” francês significa “armar cavaleiro”. Imaginou-se que poderia ter
existido uma palavra “dubban”, proveniente do alemão ou do “frâncico”, que
tivesse significado “bater”, e que corresponderia ao bater com a espada no
ombro do cavaleiro. Mas tudo isto é imaginação.
[11] - Às
vezes parece que as propostas tradicionalmente aceites para explicar a
etimologia de algumas palavras são brincadeira de criança.
[12] - Os
termos “alaku” e “hlk” são grafias diferentes da mesma palavra, sendo o
primeiro proveniente do assírio e acádio, e o segundo do ugarítico e hebraico.
[13] -
Dicionário de Falares do Alentejo.
[14] - A
palavra “brṣl” provém do hebraico antigo enquanto “przl” é aramaico. Repare-se
como o “b” e o “p”, mesmo nas línguas antigas do leste do Medierrâneo eram
confundidas. O mesmo se passa com os sons sibilantes, cuja representação
gráfica varia de língua para língua e mesmo dentro da mesma língua.
[15] - Os
termos “apr” e “øpr” significam o mesmo em hebraico antigo (a forma “øpr” em
ugarítico). Esta situação é uma das muitas em que um mesmo som foi representado
com grafias diferentes, o que permite perceber que os sons representados pelos
símbolos gráficos seriam próximos.
[16] -
Neste caso temos a elisão do “l” inicial. Parece que a elisão do nosso som “l”
ocorreu com alguma frequência.
[17] - O
som “ĥ” que existe no início de algumas palavras do acádio e do assírio
começadas por “ĥal” (e que por vezes correspondem ao som “ḥ” do ugarítico)
perdeu-se em alguns casos na língua falada no ocidente. Na toponímia temos a
palavra “ĥalsu” do acádio e assírio, ou a palavra “ḥl” do ugarítico, que
significam “fortaleza, castelo” deram origem a nomes como “ Aljubarrota”,
“Aljustrel”, “Aljezur”, etc.
[18] - Repare-se que a forma latina “mercari” resulta de uma metátese nascida da
forma fenícia mais antiga “mkr”>”mrk”. Por outro lado, a forma “mrklt” já
significava em hebraico antigo “comércio, negócio”.
[19] - Repare-se como a tradução para três instrumentos agrícolas diferentes –
“picareta”, “sachola” e “machado” – não deve ser aceite de forma simplista, mas
antes se deve perceber que o termo se refere a um instrumento agrícola que
reúne as características de todos eles.
[21] - O
Cardeal Saraiva pensa que a palavra “amém” tem relação com “verdadeiro, firme,
fiel, constante”, o que a faria radicar no termo hebraico “amwn”.
[22] - Há
verdadeiros delírios imaginativos em algumas propostas… A proposta em causa,
transcrita por J. P. Machado no seu “Dicionário Etimológico da Língua
Portuguesa”, nasceu de proposta do Frei Domingos Vieira, que a publicou no
“Grande Dicionário Português ou Tesouros da Língua Portuguesa”
[23] - A língua portuguesa ainda apresenta algumas características da língua
primordial do Neolítico. Repare-se por exemplo que o radical “nk” ainda está
presente em palavras como “banco”, “anca”, “manco”, “âncora”, etc. sempre
ligado à ideia de “imobilidade”.
[24] -
Como em outros casos o “m” ou “n” de início da
palavra foram nasalados e passaram a “am” ou “an”. Veja-se a título de exemplo
“andar”, “anca”, “andor”, etc.
[25] - A
palavra “ani” significa em hebraico antigo “navios, frota”, e “anih” quer dizer
“navio” na mesma língua. Já a palavra “ĥarru”
foi recolhida no léxico da língua acádia, e significa “depressão, canal largo,
curso de água”. Assim se vê como é preciosa a possibilidade de usar os léxicos
de várias línguas próximas de forma
complementar para conseguir reconstituir a antiga língua que é origem do
português.
[26] - Em
fenício os prefixos “b” e “m” apresentam semelhanças, e os sons acabam por se
confundir em palavras que não são correntes.
[27] - A
palavra “riksu” é acádia, enquanto a palavra “rks” pertence ao ugarítico e ao
hebraico antigo, mas significam praticamente o mesmo.
[28] -
Como em muitos outros casos, por este exemplo se pode perceber a importância de
encontrar a complementaridade entre os glossários das antigas línguas
médio-orientais, para conseguir encontrar a raiz da antiga língua do ocidente
peninsular.
[29] -
Trata-se evidentemente de um exercício de pura imaginação especulativa, sem o
menor fundamento científico.
[30] - O
Cardeal Saraiva refere a mesma origem hebraica para a palavra “aroeira”.
[31] -
Observe-se que o fenómeno de convergência entre o “arṣ”
(terra) e o “ørz” (firme, terrível), conduziu ao nosso verbo “arrojar” mas que
mantém os dois significados iniciais. Quando uma palavra do português tem
significações muito diversas é de suspeitar que tenha
ocorrido este fenómeno.
[32] - Já
Moisés Espírito Santo refere esta relação com o termo fenício no seu Dicionário
de Fenício-Português.
[33] -
Este é apenas mais um entre os muitíssimos casos de palavras das línguas
europeias atuais e antigas que partilham a raíz com as línguas do Próximo
Oriente. Por existirem tantas centenas de palavras nesta situação vale a pena
repensar a ideia da existência de uma língua antiga não
semita
a que se possa chamar “indo-europeu”.
[34] - Às
vezes torna-se difícil levar a sério as interpretações tradicionais…
[35] - O
nosso som “f” possivelmente não existia no falar pré-latino. A sua existência
no português atual deve-se ao “f” latino, mas também ao “p/b” fenício e, em
casos mais raros ao “ḥet” e ao “zain”.
[36] - Em
ugarítico também significa “triturar, moer”.
[37] - O
Cardeal Saraiva refere a relação entre o ḥet hebraico e o “f” português, op.
Cit. pag. 16.
[39] - Refira-se que o radical “ntø” tem exatamente o mesmo significado que
“mtø”, e que é “planta nova, plantar, plantação”. A palavra já consta de uma
laje inscrita com caracteres pré-romanos encontrada no concelho de Odemira, no
“Alcanfurado”, e já tem precisamente o significado de “plantação” (a referida
inscrição tem ainda a curiosidade de conter um símbolo deformado de modo a
poder ser lido “n” ou “m”, e é esse um dos motivos que leva a crer que estas
letras já indicavam uma nasalação). Convém ainda referir que esta “plantação” é
apenas a plantação daquilo que “pega de estaca”, e não qualquer outra
plantação. Devia portanto referir-se sobretudo a vinhas e olivais.
[41] -
Frequentemente o “ṯ” ugarítico corresponde ao som “tch” (e à letra “shin”
hebraica). Assim, o termo “ašr” hebraico, que nessa língua significa “caminhar,
seguir, pegada, rasto” seria equivalente ao “aṯr” ugarítico. Contudo parece que
em alguns casos o “ṯ” ugarítico corresponde a um “t” nos dialetos do ocidente.
Veja-se a este propósito também a palavra “rede”.
[42] -
Efetivamente em largas áreas do país o “b” e o “v” continuam a ser difíceis de
distinguir, sobretudo quando usadas em palavras dos falares regionais, que de
algum modo não foram sujeitas à “normalização” da escrita.
[43] -
Existe igualmente a forma “abl” do hebraico antigo, que significa “secar”, e em
acádio “ablu” é “sêco”.
[44] -
Note-se o jogo das palavras: “joaninha” é no Algarve
“aboa” ou “avoa”; a cantilena infantil ainda diz
“joaninha avoa avoa…”
[45] -
Muito embora em fenício “oliveira” e “azeitona” seja “zit” ou “zt”.
[46] -
Moisés Espírito Santo, no seu “Dicionário de Fenício-Português relaciona este
“azeite” de estar zangado com o termo acádio
“ezzetu” que significa “furor”.
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